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[Foto: Reprodução/seLecT_ceLesTe]
Postado em 07/11/2023 - 5:06
Vespa Ceramista
A Vespa Oleira (Zeta argillaceum) foi uma professora da arte da cerâmica para a artista pataxó Tamikuã Txihi

O barro, argila como material, nos conecta com a terra e sua vitalidade. As diferentes tonalidades e cores da argila têm muita sabedoria e falam para quem quiser ouvir. Nos fazem entender que os tons de pele da humanidade são um presente da mãe e irmã natureza.

As diferentes cores não são para discriminar e fazer o racismo que faz sofrer a humanidade. São para celebrar! Hoje vamos falar da vespa ceramista e como a natureza usa o barro, a argila. Vamos falar de uma das maiores ceramistas – entre tantas outras – que encontramos na floresta, nossa amiga e inspiradora: a Vespa Oleira, que tem a sabedoria da terra. No nosso fazer de crianças indígenas, essa era uma de nossas tarefas: buscar e observar animaizinhos como as vespas. Observar como construíam seus ninhos. A minha avó sempre nos contava histórias, que há muito tempo tinha aprendido e que serviam para nos fazer compreender como fazer bem as peças de barro como potes, panelas, copos, fornalhas, casas. Observando as vespas, foi então que nós aprendemos a fazer. A natureza mostra aos nossos olhos como as vespas são dedicadas em detalhes surpreendentes e quanta inteligência elas têm – para mim, superior à dos humanos –, quando se colocam como mentoras ou criadoras, por exemplo, da cerâmica. É a nossa Irmã Natureza que nos ensina. A habilidade de retirar e amassar o barro com sua própria saliva, ir molhando e moldando, com paciência, é encantador. Pouco a pouco, a vespa constrói uma casinha. É uma prática surpreendente.

É assim que eu fui admirando e observando atentamente as vespas. Assim foi que aprendi a prática da cerâmica. Para mim e para a minha família, elas são as melhores ceramistas da terra, superando o ser humano nesse processo de construção. Elas não pegam qualquer barro, elas escolhem com muito cuidado para fazer sua obra de arte e construção.

A vespa ceramista é tão inteligente que conhece cada barro relacionado com seu clima e seu uso. Suas casas ou ninhos são construídos em diferentes formatos – às vezes de potes, de vasos, com bordas arredondadas. O primeiro processo é a escolha do barro e essa escolha é uma etapa muito importante.

Nós, povos indígenas, não rompemos nosso vínculo com a Mãe e Irmã Natureza. Por isso, nós usamos a razão e a inteligência humanas com respeito, humildade e cuidado de não machucar as irmãs e irmãos, de Grande Sabedoria, que temos na natureza.

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