_{Vânia Mignone e Jessica Lange exibem confluência temática e diversidade formal em São Paulo}

Legenda: Pintura sem título (2015) de Vânia Mignone 

Qual a semelhança entre Vânia Mignone e Jessica Lange? Tanto a pintora e gravadora campinense quanto a atriz hollywoodiana, fotógrafa nas horas vagas, se apropriam da estética roadie, com cara de diário de viagem, e de um certo viés cinematográfico em seus trabalhos, formalmente diferentes entre si.

A primeira, em cartaz na Casa Triângulo até 28 de março, traz uma série de pinturas recentes, em que cenas do interior paulista ganham a perspectiva do viajante dentro do carro, passando em velocidade. Há também uma aproximação da iconografia e mesmo da realização pictórica com os cartazes antigos de cinema, pintados à mão em cada sala por artistas anônimos, que seguiam à risca as instruções vindas dos estúdios de Hollywood.

Legenda: Foto sem título de Jessica Lange

De lá vem Jessica Lange, que criou uma persona fotógrafa para contrastar com a ultraexposição que vive em seu trabalho diante das câmeras. Atrás delas, Lange também se apropria de cenas em movimento, de perspectivas automotivas e de um certo ar de filme. 

O resultado, em P&B, imprime delicada intimidade, como num álbum de memórias pessoais coletado a esmo. Não deixa de ser um pouco isso: as fotos foram feitas pela atriz nos últimos 20 anos em viagens para lugares como Finlândia e Itália. O México, pelo qual ela tem predileção, tem uma seção temática inteira só para ele na mostra em cartaz no Museu da Imagem e do Som de SP até abril.

Que o público não se iluda, porém. Sob a aparente displicência, há enquadramentos estudados, construções de planos virtuosas e um jogo de sombras e luzes que justifica a recusa à cor. No tom confessional e subjetivo das imagens, está nas entrelinhas a sensibilidade de construção narrativa de Jessica Lange.