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Postado em 22/05/2015 - 6:33
A cidade e as cidades
Guilherme Kujawski

Com curadoria de Nelson Brissac, Instituto Tomie Ohtake inaugura exposição fotográfica sobre características marcantes, mas invisíveis, da metrópole contemporânea

Legenda: Teaser de vídeo de Arnaldo Pappalardo para a exposição VER DO MEIO – como o mato que cresce entre as pedras

Beszel e Ul Quoma são duas “cidades gêmeas”, que ocupam o mesmo espaço geográfico, apesar de constituírem duas nações diferentes. Elas são invisíveis para seus respectivos habitantes, mas podem ser “reveladas” sob determinadas circunstâncias. A história foi parida pela imaginação fértil do escritor inglês China Miéville. A cidade & a cidade é o epítome máximo do tema “cidades invisíveis”.

Ítalo Calvino é outro autor que bebeu dessa fonte, com mais sede até que Miéville. Mas as cidades descritas pelas personagens do escritor italiano eram reais, históricas. No campo das artes visuais o tema também já teve seus exploradores. O fotógrafo norte-americano Ken Schles vem à cabeça, se bem que seus focos de atenção eram mais os ilustres desconhecidos de Nova York, e não o espaço e os lugares propriamente ditos.

Dito isso, voltamos a nossa atenção para a mostra VER DO MEIO – como o mato que cresce entre as pedras, com curadoria do Nelson Brissac para o Instituto Tomie Ohtake. Como parte do programa Arquitetura Brasileira, concebido pelo Instituto, Brissac convidou três fotógrafos – Arnaldo Pappalardo, Mauro Restiffe e Pio Figueiroa – para mostrar planos urbanos escondidos pelas obviedades dos cartões postais.

A chave conceitual está no subtítulo: “como o mato que cresce entre as pedras”. Apesar de nunca ter sido publicada, Brissac atribui a frase ao filósofo francês Gilles Deleuze, que a proferiu durante uma aula. Remonta àquelas formas botânicas que insistem em encontrar brechas por entre o cimento e as pedras da metrópole, mostrando o incrível poder que tem o frágil soterrado sobre os diversos tipos de obstáculos que o soterram.

A imagem da vida sob a selva de pedra, segundo Brissac, remete também a um texto sobre Richard Serra, escrito por Yve-Alain Bois. Nele, o historiador da arte francês realiza a diferenciação entre o jardim francês (geométrico, de qualquer ponto se vê tudo) do inglês (em que sempre uma árvore vem obstruir a visão). “Propus para os fotógrafos esse embate com a cidade, que não se deixa ver. Um confronto com os muros de concreto e paredes de tijolo sem reboco. A exposição problematiza a própria empreitada da fotografia e a nossa percepção da cidade”, conta o curador da mostra.

A exposição abre no próximo dia 27 de maio, 20h, no Instituto Tomie Ohtake (Rua Coropés, 88 – Pinheiros, São Paulo).