icon-plus
Postado em 10/03/2015 - 7:29
A cultura da pós-representação
Guilherme Kujawski

Exposição na Red Bull Station discute o estatuto da imagem em tempos contemporâneos

Legenda: Portrait, de Donato Sansone, obra que integra a exposição Adrenalina – a imagem em movimento no século 21

As representações visuais de antigamente eram constantes, temporais, carregadas de conteúdos definidos (costumes, religião, etc). Estavam mais ligadas à palavra grega eikon, o reflexo do espelho. Hoje já não se pode dizer o mesmo. Estamos na era da pós-representação, segundo a definição da artista alemã Hito Steyerl, uma época na qual as imagens não representam, mas “apresentam” algo, sendo esse algo uma “proposta” do que seria o objeto original, baseada em imagens de arquivo e memórias de smartphones.

O artista e curador Fernando Velázquez retoma a reflexão de Steyerl e acrescenta outros ingredientes em Adrenalina – a imagem em movimento no século 21, exposição que abre no próximo sábado, dia 14 de março, na Red Bull Station, São Paulo. A força centrífuga do conceito é a anestesia hormonal provocada pelas imagens contemporâneas, seja pelo excesso, manipulação ou transdução. Por exemplo, o trabalho Portrait, de Donato Sansone, perfila uma série de cabeças deformadas digitalmente que remetem aos bustos imaginários do pintor renascentista Giuseppe Arcimboldo. Outras obras também caminham nessa linha, como Love is Patient, de Santiago Ortiz, que traz de volta o elemento afetivo para a técnica de reconhecimento facial, hoje totalmente dominada pela sociedade da vigilância. Já Chris Coleman comenta outra técnica, a do mapeamento de cenários de games, em Metro Re/De-constrution, na qual ele retrabalha digitalmente os takes estáticos de estações de trens de superfície de Denver, sob o ponto de vista do passageiro.

Em Adrenalina, as imagens em movimento ganham uma dimensão autônoma, não representativa (e muito menos descritiva), e seus artífices não procuram mais atrelar o signo ao objeto, desfazendo o estatuto “real” da representação, sendo o único elemento real apenas uma medida de tempo, o tempo do “tempo real”. O curioso é reparar que as imagens “apresentadas” (reforçando o argumento: não “representadas”) na exposição, ao terem ampliadas suas dimensões interpretativas, como que proporcionam ao espectador o mergulho no tempo “irreal” de um metrônomo que oscila em milionésimos de segundo, mas que, mesmo assim, carregam consigo o familiar conteúdo do tempo histórico.

Além dos artistas citados, há tantos outros, nacionais e internacionais, com a mesma verve crítica que coloca no canto do ringue noções como gamificação, obsolescência programada, quantificação, parametrização arquitetônica e os abusos da cinematografia hollywoodiana. São eles Susi Sie, Lucas Bambozzi, Mike Pelletier, Ricardo Carioba, Richard Garet, Ryoichi Kurokawa, o duo britânico Semiconductor, entre outros. Os brasileiros Henrique Roscoe e Luiz DuVa, além de comporem a lista, ministram oficina e palestra, respectivamente.

Serviço:

Abertura: 14 de março de 2015, às 11h

Período expositivo: de 14 de março a 5 de maio de 2015

Horários: De terça a sexta-feira, das 11h às 20h; sábados, das 11h às 19h

Onde: Praça da Bandeira, 137 – Bela Vista, São Paulo