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Postado em 14/06/2013 - 2:52
A era da vigilância distribuída e o contra-ataque das redes
Giselle Beiguelman

Internet reage ao Prism com jornalismo investigativo e memes bem humorados

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Legenda: O update no famoso slogan de campanha de Obama (Yes We Can) é um dos memes que reagem ao Prism

Prism é o nome do sistema de vigilância eletrônica da Agência de Segurança dos Estado Unidos (NSA, National Security Agency). Permite monitorar e recuperar informações a partir de chamadas telefônicas, e-mails, posts no Facebook, arquivos armazenados no Google Drive, conversas no Skype, e uma infinidade de atividades on-line feitas corriqueiramente. 

Segundo reportagens de veículos noticiosos do calibre do Guardian, do Washington Post e do New York Times, diversas empresas, como Apple, Facebook, Microsoft, Yahoo e Verizon, colaboram com o programa. As empresas negam, mas não convencem. 

Com exceção do Twitter, as empresas responsáveis pelas redes sociais e serviços mais populares de comunicação na internet desenvolveram servidores paralelos que fornecem ao governo americano as informações sobre seus usuários. 

Baseada nas declarações dadas pelas empresas envolvidas no escândalo, a jornalista Claire Cain Miller conclui, sem deixar muito espaço para dúvidas: o que as empresas estão fazendo, em resposta às demandas oficiais, é construir uma “caixa postal trancada e dar a chave para o governo”. (Leia esse artigo publicado no New York Times e saiba mais sobre o Prism aqui).

Desenvolvida em nome do combate ao terrorismo e o zelo pela segurança nacional, essa garimpagem de dados, baseada na associação entre o governo dos EUA e empresas de tecnologia e comunicação, tem escala planetária e acirra um debate sobre privacidade na rede que não é recente, mas que certamente ganha novos contornos. 

As empresas envolvidas nesse escândalo são proprietárias de canais por onde circulam não só as informações e a comunicação do século 21, mas também boa parte da vida social e afetiva da nossa época. A vulnerabilidade dos dados em questão diz respeito a uma massa rizomática de conteúdos e rastros, linkados uns aos outros, produzidos por sujeitos “nodulares” (nós de redes), como conceituou o urbanista William James Mitchell em Me++: The Cyborg Self and the Neworked City (MIT Press, 2002). Cada input é um rastro e esse rastro está enredado a outros. 

Instaura-se aí a possibilidade de vigilância distribuída, pilar da sociedade de controle, um sistema que é garantido pela capilaridade do poder. Essa capilaridade, contudo, não atua em uma via de mão única. 

O filósofo Gilles Deleuze, em um ensaio que se tornou premonitório sobre o tema, contrapondo a sociedade disciplinar a de controle, escreveu:

Não se deve perguntar qual é o regime mais duro, ou o mais tolerável, pois é em cada um deles que se enfrentam as liberações e as sujeições. Por exemplo, na crise do hospital como meio de confinamento, a setorização, os hospitais-dia, o atendimento a domicílio puderam marcar de início novas liberdades, mas também passaram a integrar mecanismos de controle que rivalizam com os mais duros confinamentos. Não cabe temer ou esperar, mas buscar novas armas.

No caso do Prism, essas armas são a ampla cobertura, sem tréguas, feita na Internet, e a revolta bem humorada dos memes. Na nossa seção selects, publicamos
um manual para entender o Prism, com uma seleção reportagens, livros para baixar e memes para rir ao invés de chorar.