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Postado em 02/09/2011 - 5:35
A gramática dos filmes
Juliana Monachesi

Artista de Bangladesh toma de empréstimo uma revolução do início do século 20 no Irã para abordar outras mais recentes

Runa Islam

Emergence, obra de Runa Islam em exposição no MoMA (divulgação)

Runa Islam é a mais nova aposta da meca dos museus, o MoMA, em Nova York. A artista britânica nascida em Bangladesh realiza mostra individual na concorrida série Projects do museu, que em anos recentes lançou (como sempre sem escalas direto para o “estrelato”) nomes como Sigalit Landau (2008), Klara Liden (2009) e Dinh Q. Lê (2010). Com a obra Emergence desenvolvida especialmente para o Projects 95: Runa Islam, ela utiliza um levante no Oriente Médio para aludir a outros, afirmou o crítica Karen Rosenberg em resenha publicada na sexta-feira no NYT. “A sra. Islam fez a peça entre janeiro e abril, bem quando a Primavera Árabe estava ganhando força. Mas também confere uma mensagem estrutural: a de que cada fotografia é uma revolução em miniatura”, escreve Rosenberg.

A “revolução em miniatura” se refere ao processo de transformação retratado no filme: a artista parte de um negativo danificado de vidro de uma foto que retrata uma praça de treinamento militar no Teerã em inícios do século 20 durante a Revolução Constitucional Persa de 1905-11. O autor da imagem, Antoin Sevruguin, era um fotógrafo oficial da Corte Imperial do Irã, e seu estúdio fotográfico foi atingido em um bombardeio em 1908, o que causou os estragos no negativo em questão. O negativo, ao qual ela teve acesso no acervo do Smithsonian, foi ampliado e o vídeo mostra este processo: a emergência da imagem no papel fotográfico imerso no banho químico.

Outros três vídeos de Runa Islam foram selecionados para a mostra, especialmente pela relação que estabelecem com a obra Emergence: The House Belongs to Those Who Inhabit It (2008), Magical Consciousness (2010), e This Much Is Uncertain (2009–10). O primeiro, comissionado pela Manifesta7, baseia-se em um grafite que Runa Islam encontrou em uma casa abandonada de Rovereto, no norte da Itália, em que se lia “La casa è di chi la abita”, que deu título ao trabalho em inglês. Slogan associado a movimentos anarquistas que na ocasião questionavam contundentemente a política local acerca do patrimônio arquitetônico pós-industrial da região vandalizando construções abandonadas, a frase dita o movimento da câmera, transformando o cinema em “grafite e transgressão, fazendo traquinagem da mais lírica variedade”, analisa a crítica.