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Postado em 28/04/2014 - 7:30
À margem do produtivismo
Márion Strecker, de Recife

Seminário em Recife discute como a arte representa as “vidas roídas”

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Legenda: Moacir dos Anjos preparando a 29ª Bienal de São Paulo (foto: Divulgação)

“A arte tem de se engajar com o mundo. Não paira acima dele”. Esta é a posição do curador Moacir dos Anjos, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco que apresenta uma grande exposição no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), em Recife, até 6 de julho. Inspirado por um poema de 1950 de João Cabral de Melo Neto, chamado “O Cão sem Plumas”, Moacir faz agora uma versão bastante ampliada da exposição “Cães sem Plumas [prólogo]”, que ele curou para o Roesler Hotel em São Paulo, no ano passado.

Em paralelo à exposição, acontece na Sala Aloísio Magalhães da Fundação Joaquim Nabuco um seminário que discute como a arte representa ou não representa aqueles que, no Brasil, “vivem à margem de quase tudo que outros já alcançaram, e para os quais somente existe interdição”. Nessa categoria encontram-se loucos, moradores de rua, índios e presidiários, entre outras pessoas “não contabilizadas no cálculo produtivista que rege e mede o avanço econômico do Brasil”.

O primeiro debate aconteceu na quinta (24/4), com a participação do artista visual José Rufino e do escritor Luiz Ruffato, além do curador. Moacir dos Anjos abriu a noite apresentando o projeto da exposição. O escritor Luiz Ruffato, filho de uma lavadeira e um pipoqueiro, defendeu que “personagens pobres não precisam de psicologia nem linguagem pobres”. O artista José Rufino, filho de presos políticos envolvidos com ligas camponesas, contou da convivência com estrutura escravocrata na casa dos avós, das dificuldades que sua geração, hoje com 50 anos, sentiu ao enveredar por temas políticos (“Cuidado, você pode estar fazendo arte engajada!)”, da crise artística que está vivendo no momento, da relação com a escrita e da “polifonia e polissemia que a palavra tem”. O artista prepara um livro que será lançado pela editora CosacNaify.

As diferenças entre arte engajada e arte panfletária foram também discutidas no seminário. “Arte engajada é sempre contra. Arte panfletária sempre é a favor”, defendeu Luiz Ruffato.

Próximos debates:

5 de maio (segunda-feira) | 19h

A POBREZA QUE NÃO INTERESSA
A miséria do olhar em relação às populações mais precarizadas do Brasil; a opacidade social dos que não vivem como “cidadãos” em seu país.
Fabiana Moraes (socióloga e jornalista do Jornal do Commércio)
Jessé de Souza (sociólogo e professor da UFJF)
Maria Eduarda Rocha (socióloga e professora da UFPE)

7 de maio (quarta-feira) | 19h

O INVISÍVEL REPRESENTADO
A representação do que não é comumente visto; a construção de um lugar de visibilidade em um tecido social que apaga e exclui.
Luiz Camillo Osório (professor de estética e curador do MAM RJ)
Márcio Selligman-Silva (crítico literário e professor da Unicamp)
Virgínia de Medeiros (artista)

O auditório fica à rua Henrique Dias, 609, Derby, em Recife. A entrada é gratuita.

Leia também: Notas sobre Cães sem Plumas, de Moacir dos Anjos

*A jornalista Márion Strecker viajou a Recife a convite da Fundação Joaquim Nabuco