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Postado em 03/09/2013 - 9:41
A nova cara da Wired
Da Redação seLecT

Leia na íntegra a entrevista da designer paulista que mudou o visual da publicação norte-americana de tecnologia

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Legenda: Capa da última edição da revista norte-americana já com novo desenho

A nova diretora de design da Wired Magazine é brasileira. Mas, embora nascida em Martinópolis, no interior de São Paulo, e criada em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, Cláudia de Almeida estudou e se formou na School of Visual Arts de Nova York. Todas as suas fontes e referências são, portanto, designers gráficos e editoriais americanos, como Carin Goldberg e Debra Bishop, legendária diretora de arte da Rolling Stone, com quem a brasileira trabalhou.

Mas, se Cláudia de Almeida não imprimiu ao novo projeto gráfico da Wired um acento brasileiro, optou por dar às suas linhas gráficas um tom afirmativamente intimista, humanista e até mesmo feminino.

“Quando cheguei à Wired, Scott Dadich (atual editor-chefe e ex-diretor criativo) me disse que gostaria de criar uma revista mais inclusiva, o que era algo extremamente importante para mim também”, diz ela a seLecTs.

“Como mulher, sempre achei que as revistas de tecnologia não falavam comigo – e existem toneladas de mulheres trabalhando no campo da tecnologia também sem representatividade. A tecnologia é para todos, não só para os homens, e a Wired precisava refletir isso.”

A ferramenta escolhida pela designer para tal tarefa foi a fonte serifada Ambroise, de pegada levemente nostálgica. “A Wired é mais que uma publicação sobre tecnologia, é uma revista sobre inovação e sobre as pessoas por trás disso, então deve expressar calor e ‘humanidade’.”

Reconhecendo o estágio atual da tecnologia, o novo projeto da Wired também troca a referência na bidimensionalidade do pixel pela tridimensionalidade da rede. Leia abaixo a íntegra da entrevista, publicada parcialmente na edição impressa #13 de seLecT.

seLecT – Uma rápida navegada no seu site e no seu blog mostram que você é uma especialista em design editorial. Você pode citar alguns dos destaques da sua trajetória desde que você deixou o Brasil até assumir a direção de design da revista Wired? Aliás, onde você nasceu e quando mudou-se para Nova York?

Claudia de Almeida – Eu nasci numa cidade pequena no sul do estado de São Paulo, perto de Presidente Prudente, chamada Martinópolis. Depois da morte do meu pai, minha mãe nos levou para o sul do Brasil, quando éramos crianças. Eu cresci em Novo Hamburgo, uma cidade de tamanho médio a cerca de meia hora da capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

Fiz faculdade na cidade de Nova York. Quando eu tinha 18 anos, me inscrevi para o bacharelado em publicidade da School of Visual Arts. No Brasil de então não havia uma distinção clara entre design e publicidade. A maior parte do design era feita por agências de publicidade, ou pelo menos era o que eu pensava. Nos EUA, havia uma separação mais clara entre os dois mundos. Depois de alguns anos na faculdade, eu percebi que gostava mais de desenvolver o design dos meus anúncios do que de redigir seus textos.

Depois de meu junior year (geralmente o terceiro ano da faculdade), um de meus instrutores, Terry Koppel, que me achava uma designer talentosa, me convenceu a trocar o bacharelado em publicidade por design gráfico. Terry foi fundamental na minha formação como designer gráfica. Ele era principalmente um designer editorial, mas anteriormente havia sido sócio no stúdio da mundialmente reconhecida designer Paula Scher. Ele me ensinou que bom gosto, boas ideias e boa digitação é tudo o que você precisa para fazer praticamente tudo em design. Ele também possibilitou que eu cursasse a aula de tipografia de Carin Goldberg, que é seguramente a melhor professora de design do mundo, na minha opinião, e uma das melhores designers também.

Depois de me graduar, fui trabalhar na T: The New York Style Magazine, quando era comandada por Janet Froelich, que é uma diretora de design sensacional. Eu aprendi tanto com ela. Mesmo tendo trabalhado lá por um curto período de tempo. De lá para cá, venho trabalhando com uma variedade de designers incríveis, incluindo Debra Bishop, cujos trabalhos na Rolling Stone e depois na Martha Stewart Kids, Baby e Blueprint são igualmente legendários.

seLecT – Você pode nos contar sobre a influência do modelo de rede (em vez do modelo de pixel) no design criado por você para o novo projeto da Wired?

Claudia de Almeida – Quando Scott Dadich, atual editor chefe da Wired, era o diretor criativo da revista, ele baseou seu projeto no pixel. Era absolutamente genial, inteligente e profundo. Ter um conceito forte permitiu a ele criar regras e restrições para o design, e também ajudou os designers da equipe a entenderem a gestalt (forma) e a serem capazes de trabalhar dentro desses parâmetros, imprimindo ainda assim seus próprios estilos.

Quando chegou minha vez de redefinir o projeto gráfico, eu quis abordar isso da mesma forma, com um grande conceito. A tecnologia trilhou um longo caminho. Apesar de as telas serem parte dos avanços na área, o pixel é apenas uma parte delas. Posso ouvir no meu computador música que comprei no meu celular sem ter que conectar os dois aparelhos. Posso ligar o alarme da minha casa através do meu telefone e posso depositar um cheque simplesmente tirando uma foto dele.

A tecnologia está em todos os lugares ao nosso redor, é uma rede, e cada vez mais vem se tornando invisível, algo que simplesmente acontece com o mínimo esforço de nossa parte. Ok, tudo isso é ótimo, mas como você mostra isso visualmente? Realmente não há um símbolo único para mostrar todas essas coisas. Então eu comecei pesquisando objetos multidimensionais, até mesmo alguns mitológicos, como o tesseract (hipercubo de quatro dimensões da mitologia nórdica).

O tesseract se tornou complicado demais como modelo e conceito para resolver o design da revista, então fiz um exercício comum entre os designers que consiste em você se perguntar “por que?” e, uma vez que você responde essa questão, você se pergunta “por que?” novamente. Margaret Swart, uma diretora de arte incrível e veterana da Wired, trabalhou no redesign comigo e me ajudou a concluir que o que buscávamos eram maneiras de mostrar dimensionalidade numa superfície plana.

Assim, acabamos nos apoiando em ilusões de ótica, como o círculo de Moebius (que forma o Q de uma de nossas novas seções), ao lado de outros auxílios visuais que também trazem a mesma ideia, como a letra “L” minúscula com espaçamento uniforme, que é comumente confundida com 1 na maioria dos ambientes de programação.