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Postado em 09/08/2013 - 2:52
Abaseh Mirvali
Da Redação seLecT

Um ping pong com a curadora do projeto LUPA na Art Rio

Legenda: Em 2012, Abaseh foi entrevistada para a PROATVWeb sobre sua curadoria na arteBA, feira internacional de Buenos Aires.

Curadora independente, a iranina Abaseh Mirvali já foi a responsável pelo “Berlim fala”, fórum de palestras da ArtForum em Berlim, Diretora Executiva da Fundación / Colección Jumex (México), curadora da Bienal das Américas, e nesta entrevista fala à seLecT sobre seu mais recente projeto, como curadora convidada do projeto LUPA, exposição de obras de grande escala que será montada no Píer Mauá durante a ArtRio.

A ArtRio acontece de 5 a 8 de setembro no Rio de Janeiro.  As obras de grande porte do projeto LUPA ocuparão o Armazém 4 do Cais do Porto.

seLecT: Você poderia nos falar dos principais conceitos envolvidos na curadoria do programa LUPA na ArtRio?

Abaseh Mirvali: O conceito curatorial vislumbrado para o LUPA tem múltiplas facetas. Por um lado, é inspirado no local de tirar o fôlego onde será realizado, no Pier Mauá. Além disso, essa seção é profundamente inspirada por todas as imagens visuais e expectativas que perpassam nossa mente quando pensamos no Rio de Janeiro com sua energia, paisagem, sons e pessoas maravilhosos. Minha intenção com os trabalhos apresentados é tentar reconhecer, analisar, reinventar e explorar as implicações sociológicas e culturais deste rico cenário.

Há também um foco em jogar com as estruturas. A montagem de LUPA presta-se a um rico diálogo com as linhas, espaços e formas da arquitetura brasileira, e mais especificamente com as interessantes construções pós-modernistas, que povoam o Brasil e são ao mesmo tempo abstratas e esculturais. Mas acima de tudo, LUPA é concebida como um espaço colaborativo entre o curador, os artistas e as galerias onde projetos interessantes ganharão vida e serão desenvolvidos em uma atmosfera flexível e refrescante. 

E já podemos saber quais serão os trabalhos e artistas?

Nós estamos trabalhando duro para fechar a lista de participantes e projetos. Este processo leva tempo, pois é construído através de um diálogo pessoal com os artistas e também as galerias. Até agora, eu posso compartilhar alguns dos artistas que estarão participando da LUPA: James Turrell (USA),Fred Sandback (USA), Artur Lescher (BRA), Hélio Oiticica (BRA), Daniel Steegmann (SPA), Ana Roldán (MEX), José Bechara (BRA), (EUA) e Amílcar de Castro (BRA), para nomear alguns. E até o momento confirmamos a participação de algumas renomadas galerias, como Pace (USA), A Gentil Carioca (BRA), Anita Schwartz (BRA), David Zwirner (EUA), La Central (COL), Lemos de Sá (BRA), Mendes Wood (BRA), e Marília Razuk (BRA).

Por que a escolha de uma escala monumental para este projeto?

Quando Brenda Valansi e João Paulo Siqueira me convidaram para este projeto, eu fiquei realmente empolgada com seu foco em escultura, e nas obras de artistas como Jorge Pardo, Saâdane Afif, Cevdet Erek, Pawel Althamer, ou Damián Ortega; passei a apreciar a escultura de modo mais completo e estou aberta a suas mais diversas interpretações e manifestações. Como a escultura pode ocupar um espaço, brincar com o som e a luz, e dialogar com a arquitetura. Eu acho que com um projeto desta natureza é possível ter uma abordagem mais holística e jogar com o contexto e o espaço, permitindo que os projetos selecionados apresentem diferentes leituras convidando o espectador a criar uma nova relação. Monumental para mim é a medida do impacto, e não do tamanho.

Todas as peças são de galerias que estarão expondo na ArtRio?

Sim, todas as galerias que enviaram projetos participam com um estande na ArtRio, então essa seção é o complemento curatorial perfeito para sua presença na cidade durante a feira.

Por que as feiras de arte são a principal vitrine para a arte contemporânea?

Bem, eu acredito que elas são uma das vitrines, mas certamente não a principal. Eu acredito sim que, em certos contextos, feiras permitem que as pessoas venham e explorem sem a pressão de se exporem ou expor o grau de conhecimento que deveriam ter sobre os trabalhos. Você pode ser um explorador e estudar e aprender. A pessoa pode controlar o grau de engajamento com galerias, artistas, curadores, críticos, colecionadores, já que eles estão presentes e mostrando sua mais recente produção e pensando sobre os artistas contemporâneos.

A maioria das feiras de arte é comercial, mas agora muitas delas começaram a incluir projetos curatoriais, incentivos para artistas e galeristas pensarem sobre expor as obras em contextos e escalas diversos através de plataformas inovadoras dentro da feira. Most art fairs are commercial but now many have also started to include curatorial projects, incentives for the artists and their gallerists to think of displaying works in different contexts and scales through innovative platforms within the fair. Desse modo, visitantes e organizadores conseguem ter um vislumbre de ambos mundos, o “comercial” e o “curatorial”.

Qual é o seu conhecimento sobre arte brasileira?

Meu pai é urbanista, e quando eu era muito pequena ele foi Ministro do Planejamento e Urbanismo no Irã, e por conta disso eu passei a apreciar arquitetura e planejamento urbano desde cedo. E como você pode imaginar, alguém que queira falar desses temas não pode deixar de estudar Oscar Niemeyer e sua influência na arquitetura moderna, particularmente em relação à criação de Brasília. Eu fui atraída pelas formas abstratas e pelos aspectos concretos, mas também pela beleza das curvas. Esse conhecimento provavelmente influenciou minha inclinação pessoal para a arte abstrata e a abstração geométrica. Eu nasci em uma cultura linda que valoriza arte e literatura e que, ao longo de séculos de guerras e invasões, aprendeu a comunicar com e sem imagens. Às vezes o significado era transmitido através de formas abstratas, outras através do uso de linguagens como uma forma artística. Por essas razões, não me parece estranho ver que a vida me trouxe para o Brasil para ser capaz de explorar mais sobre a história que foi criada aqui, dada sua enorme relevância.

No campo profissional, não apenas fui diretora da Fundacion/Colección Jumex no México por vários anos, e também Executive Director & Comisaria na Bienal das Américas, mas fui inicialmente baseada na América Latina por onze anos, trabalhando com a comunidade cultural de diversas maneiras. Através de diversos projetos, eu tive o privilégio de trabalhar com colegas e artistas baseados nos nossos países, muitos brasileiros que tiveram enorme importância histórica para este país e seus aritistas, arquitetos e designers, apenas para mencionar alguns dos campos culturais que são extraodinariamente relevantes.

Eu também tenho acompanhado muitos artistas brasilerios como Ernesto Neto, Cildo Meireles, Renata Lucas, Rivane Neuenschwander e Jac Leiner, apenas para nomear alguns, e eu já incluí trabalhos de artistas brasileiros em outros projetos nos quais fui curadora. Por exemplo, incluí trabalhos de Roberto Winter, Guilherme Peters, Marcelo Cidade, Deyson Gilbert e José Damasceno em mostras curatoriais. Porém, LUPA abriu uma oportunidade incrível de conhecer melhor a cena da arte brasileira contemporânea, com suas proeminentes galerias e artistas. Estou realmente animada com o privilégio de poder aprofundar sinceramente meu conhecimento nesse ambiente diverso, rico e vibrante.

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