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Postado em 09/02/2012 - 11:40
Acabou a flânerie digital
Juliana Monachesi

Terminou a VIP Art Fair 2.0, mas galeristas aprovam a experiência da feira não-presencial e garantem retorno

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Legenda: Selfportrait of You + Me, de Douglas Gordon, que foi exposta na VIP Art Fair pela galeria parisiense Yvon Lambert

As galerias brasileiras ouvidas por seLecT são unânimes em afirmar que o modelo de feira online as deixou pra lá de felizes: custo radicalmente menor, possibilidade de expor instalações e esculturas de grandes dimensões e contatos com mercados distantes e antes insondáveis estão entre os principais pontos que Luisa Strina, Daniel Roesler, Cecilia Tanure (d’A Gentil Carioca) e Rodrigo Editore (da Casa Triângulo) levantam no balanço que fazem da VIP Art Fair 2.0. Na repercussão internacional, a maior vantagem apontada a respeito da segunda edição da feira online foi a visibilidade (e o aumento das vendas) de obras em vídeo ou novas mídias.

É curioso que o audiovisual e as mídias digitais sejam as maiores beneficiárias da feira, porque a interface oferecida pela VIP Art Fair não propôs qualquer inovação na apresentação dos trabalhos nestes suportes. Ao contrário, o evento aposta mesmo em uma interface conservadora que emula o funcionamento de uma feira presencial, com mapa que simula um espaço físico para os visitantes se localizarem. De específico ao ambiente virtual, o website da VIP 2.0 oferecia algumas (poucas e sem imaginação) opções de avatares entre as quais o visitante podia escolher para quando quisesse visualizar a escala de alguma obra (único momento em que o “avatar” protagonizava a flânerie), a possibilidade de criação de uma coleção particular associada ao perfil do visitante, e também uma funcionalidade de chat para conversar com funcionários das galerias expositoras.

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Legenda: Avatar feminino “observa” Swing (2010), escultura de Nari Ward no estande virtual da galeria Lehmann Maupin, NY

A ferramenta da coleção mostrou-se muito útil na organização da visita, e mais ainda após o término da VIP 2.0, uma vez que continua disponível para consulta. O chat funcionou bem – esta havia sido a ferramenta mais problemática na edição de 2011, o que fez com que a organização da feira devolvesse 1/4 do valor de inscrição às galerias participantes -, e foi por meio dele que as entrevistas para a presente reportagem foram feitas, o que não deixa de agregar mais familiaridade à experiência da feira de arte. Segundo os galeristas ouvidos, a ferramenta foi utilizada também por outros profissionais: “Apesar de pouquíssimos contatos pelo chat, por meio dele conversamos com curadores, colecionadores, advisors, diretores de feira e artistas! Exatamente igual a uma feira presencial, mas em quantidade incomparavelmente menor”, conta Rodrigo Editore.

A VIP Art Fair disponibilizou um serviço com estatíticas detalhadas de visitação para as galerias. “O maior público é norte-americano. Tivemos 2.640 visitantes únicos no nosso estande até ontem [terça-feira], desses, cerca de 20% interagiram com nossas obras e deixaram um contato”, relata Daniel Roesler. “O fluxo maior foi de norte-americanos e brasileiros, seguidos pelos alemães, ingleses, italianos e ‘outros’, nesta ordem. Nos contatos, observamos que existem vários membros de instituições e curadores asiáticos, talvez pelo recente anúncio de que vamos participar da ART Hong Kong em maio deste ano”, acrescenta Editore, da Casa Triângulo.

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Legenda: Avatar masculino “observa” Hands & Feet III (2011), escultura de bronze de Thomas Houseago na galeria Hauser & Wirth (Nova York, Londres e Zurique)

“Assim como na última edição, tomamos vantagem do formato virtual para mostrar obras grandes (esculturas, instalações…), com as quais em uma feira convencional teríamos gastos altos de transporte e montagem, e vídeos, porque, novamente, em uma feira convencional existem muitas distrações e nem sempre o público tem tempo para assistir ao vídeo todo, ao contrário de quando se está em casa”, conta Cecilia Tanure. “Fomos mudando as obras no estande d’A Gentil Carioca de acordo com as respostas dos visitantes, utilizando os dados que a feira oferece – como quais obras foram mais vistas, salvas etc. -, assim como as respostas que recebemos de pessoas interessadas”, acrescenta ela.

Roesler concorda acerca das vantagens do formato online: “Poder mostrar obras de grande escala, uma vez que feiras convencionais dificilmente comportam instalações. E os vídeos, que são difíceis em feiras normais, funcionaram particularmente bem”, afirma ele. A galeria Nara Roesler também veiculou pequenos documentários no estande, como um vídeo que mostrava Jonathan Hernández no ateliê falando sobre o seu trabalho.

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Legenda: Galeria de obras em coleção particular dentro da VIP Art Fair

A galeria Luisa Strina recebeu mais de 3.000 visitantes durante a VIP Art Fair, segundo a marchande em entrevista por telefone hoje: “Estou muito feliz com o resultado da feira, porque ela possibilitou que a galeria ganhasse novos clientes de todos os cantos do planeta; é uma iniciativa importante para nós que somos do Sul e jamais receberíamos nas galerias daqui esse número de visitantes estrangeiros”, afirma Luisa Strina. “O estande da feira virtual proporcionalmente ao de uma feira convencional tem um custo muito baixo e por isso é extremamente atrativa: com poucas vendas o custo fica resolvido”, diz Cecila Tanure. “As vendas ainda são tímidas. Mas o potencial é grande!”, opina Roesler.