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Postado em 29/08/2013 - 4:32
Adeus a Hudinilson Jr.
Da Redação seLecT

O parceiro do grupo 3nós3 Mario Ramiro e a galerista Jacqueline Martins falam do artista de Exercícios de Me Ver, que faleceu em São Paulo, aos 56 anos

Hudinilson

Legenda: Em Exercícios de Me Ver, o próprio Hudinilson Jr. posa com a fotocopiadora (Reprodução) 

Artista multimídia, Hudinilson Urbano Junior cursou artes plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, entre 1975 e 1977, e experimentou múltiplas expressões artísticas, explorando o desenho, a pintura, mail-art, graffiti, xerografia, performances e intervenções urbanas, nas quais o corpo foi tema recorrente. O trabalho de Hudinilson tornou-se famoso nos anos 1980, especialmente com a série de fotografias intitulada Exercícios de Me Ver, em que retratou a si mesmo simulando um ato sexual com uma fotocopiadora. Ele foi um dos pioneiros no uso da arte xerox no Brasil. 

Fundou o grupo 3nós3, em 1979, com os artistas Rafael França (1957 – 1991) e Mário Ramiro (1957), que até 1982 realizou intervenções artísticas na paisagem urbana de São Paulo. A partir de 1982, inicia a série Exercícios de Me Ver, que expõe na Galeria Chaves, em Porto Alegre, e no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC-USP, em 1983. Em 1984 participa da 1a Bienal de Havana e da exposição Arte Xerox Brasil, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, da qual é o curador. Expõe na 18a Bienal Internacional de São Paulo em 1985 e na 3a Bienal de Artes Visuais do Mercosul, em 2001.

Representado pela Galeria Jaqueline Martins, de São Paulo, no último ano participou da exposição Colagens, com Nino Cais, e da coletiva Poética Relacional, e foi homenageado, em 2012, pelo Centro Cultural São Paulo (CCSP) na exposição “Obra e Documento – Arte/Ação e 3nós3”, onde foram relembrados o trabalho do seu trio com Mario Ramiro e Rafael França, além dos trabalhos da dupla Arte/Ação, de Genilson Soares e Francisco Iñarra.

A galerista Jacqueline Martins fala do artista:

“Mostrei o Hudi algumas vezes na galeria e em feiras ,ele sempre roubava a cena. Um artista genuinamente marginal, tudo nele é verdade, suas crises, seu temperamento, uma produção inteira sem truques, sem modismos, não abriu concessões e pagou por todas as suas escolhas.”

O artista Mario Ramiro fala do artista:

“Para muitos, a vida boêmia de um artista é um item que se ajusta adequadamente a um modelo literário do sujeito que vive de forma radical e que assim tempera sua arte com a mesma radicalidade com que vive. No entanto esses admiradores da vida desregrada não ousam se sentar nas cadeiras ensebadas ou respirar o ar carregado dos ateliês onde esses artistas destilam a sua obra. Não arriscam abandonar sua zona de conforto e amenizar um pouco a maldita solidão dos junkies. Acham tudo irado, muito louco, e das exposições levam para casa os folders com uma biografia asséptica de quem estava pouco se importando com a belezura emoldurada de suas vísceras.”

Hudinilson Jr. foi encontrado pela mãe em seu apartamento em São Paulo e a causa de morte ainda não foi esclarecida.