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Postado em 17/07/2014 - 6:06
Arte após a morte
Guilherme Kujawski

Nova plataforma digital é opção para detentores de direitos de obras de artistas falecidos e não reconhecidos

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Legenda: Josh Holland, Railroad Siding 1 (1946), obra parte do acervo do POBA (foto: Reprodução)

Na seção Fogo Cruzado da edição #18 da seLecT, Paula Alzugaray e Luciana Pareja Norbiato entrevistaram vários artistas brasileiros munidas com a seguinte pergunta: como vocês planejam a preservação de suas obras para as próximas gerações? O conteúdo mostra que alguns deles se preocupam com a posterioridade, enquanto outros são indiferentes ao futuro de suas obras, ou como suas famílias irão lidar com o assunto.

Todos são artistas conhecidos, como Rosângela Rennó, Paulo Bruscky e Anna Bella Geiger. Mas e se fossem desconhecidos? Ou melhor: e se fossem artistas que morreram sem o reconhecimento de seus talentos ou legados criativos? É essa a pergunta que faz a recém-inaugurada plataforma digital POBA, espécie de museu virtual voltado para qualquer pessoa que possuir os direitos de obras de artistas falecidos, principalmente os que não foram devidamente reconhecidos pelo “sistema da arte”.

Os membros, geralmente famílias ou curadores de legados, pagam um emolumento anual de $49.95 para poder usufruir das benesses e recursos do site. Revelado pelo fórum Hyperallergic, o POBA está longe de ser um agregador de pesadelos em forma de obras de arte executadas em várias mídias. Estão lá desenhos “picassianos” do escritor Norman Mailer, as fantásticas representações realistas de Josh Holland (que tem tantos méritos quanto outro conterrâneo seu, Edward Hopper) e as pinturas impressionistas de Pete Ham e Tom Evans, integrantes da obscura – porém seminal – banda pop britânica da década de 1970, Badfingers.

Tomara que as famílias de obscuros artistas descubram o POBA, sejam eles representantes da arte bruta, arte marginal ou outside art. Muitos deles já foram revelados, como Henry Darger, uma espécie de Bispo do Rosário dos EUA, cujas obras foram descobertas num porão de escola de segundo grau após a sua morte, local onde trabalhava como faxineiro. Certo que ninguém escapa do ostracismo, por mais esforços que realize, mas, como dizia o velho Spinoza, at nihilominus sentimus experimurque, nos aeternos esse.