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Postado em 26/08/2011 - 4:17
Arte viva

Tatiana Blass usa taxidermia como metáfora do fim da representação.

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Na escultura Embora (acima), de Tatiana Blass, cão de parafina derrete com calor de refletores

Nina Gazire

Taxidermia em grego significa dar forma à pele. É a arte de reconstruir um ser morto para exibição ou estudo, e principalmente, uma ferramenta de conservação de uma aparência expirada pela morte. É uma paralisia do que antes foi o invólucro de um ser, permitindo a falsa sensação de que é possível a contenção do que antes foi o corpo vivo. Se taxidermia é a arte de dar forma a algo que expirou, há algo de taxidérmico no entendimento de que algumas produções artísticas, como por exemplo, os retratos, paisagens, naturezas mortas e esculturas tentam representar um momento ou um ser.

A artista Tatiana Blass questiona essa lógica em suas catorze obras expostas no espaço da Caixa Cultural Brasília. Com curadoria do crítico de arte José Augusto Ribeiro, a exposição faz um balanço dos últimos cinco anos da produção da artista, que freqüentemente recorre ao recurso da taxidermia em instalações e esculturas. A mostra também apresenta obras inéditas em vídeo com o objetivo de oferecer uma visada abrangente da trajetória da artista, inclusive os próximos passos da produção. Mas a taxidermia de Blass não é uma taxidermia literal, apesar de suas obras mais conhecidas, Aquele que contava as horas e Cerco fazerem o uso de animais embalsamados.

Exemplo da taxidermia metafórica de Blass é a instalação Embora, feita a partir do molde e de um contramolde de um cachorro inseridos em uma parede. Um cão parece fugir do invólucro que é o seu próprio corpo, feito de latão. Mas escapar é uma missão impossível, o correto aqui seria evanescer. Escapar significaria continuidade, permanência em outro lugar. O cão é feito de parafina e derrete com o calor incidente dos refletores, desaparece. A obra é uma referência ao processo de criação artístico da realização da escultura em metal, onde a forma final só é conseguida após sucessivos erros e infinitos moldes de parafina que não aparecem como parte da obra acabada.

A artista realiza uma reflexão com muita poesia ao ironizar a noção da arte como uma esfera autônoma. Como se a arte fosse produto que existe por si só e independe do público quando acabada. Para Tatiana Blass o que vale não é o troféu de caça, cabeça de uma presa embalsamada como as obras estáticas de um museu ou galeria. E essa é a revelação anti-taxidérmica da produção de Tatiana Blass presente não só em Embora, mas em outros trabalhos dessa exposição

Tatiana Blass
Caixa Cultura l Brasília
Quadra 4 – Lote 3/4
Edifício Anexo da Matriz
4º andar Brasília – DF
21 de junho a 31 de julho

www.caixacultural.com.br