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Retrato de Marcelina Bermudez com peça feita em Buriti (Foto: Benjamin Mast)
Postado em 23/12/2019 - 3:22
Artesanato, memória e subsistência
Peças de buriti garantem perpetuação da cultura do povo Warao e geração de renda para grupo de indígenas refugiadas da Venezuela
Luana Fortes

A exposição Ojidu – Árvore da Vida Warao deu outro sentido ao ato de comercializar objetos artísticos. Se em uma galeria de arte contemporânea não se sabe o destino do valor pago por um trabalho, os recursos gerados na aquisição de cestos, vasos, chapéus e bolsas, feitos com a palha da palmeira buriti, expostos no museu A CASA, foram para refugiados da etnia Warao no Brasil. As peças em exibição foram feitas por um grupo de mulheres venezuelanas Warao refugiadas. 

De acordo com relatório do Sistema de Tráfego Internacional, entre 2017 e agosto de 2019, foram registradas 481 mil entradas de venezuelanos no País, dos quais 201 mil permaneceram em solo brasileiro. Em estimativa veiculada pela divulgação da exposição, 4,5 mil pessoas da etnia Warao vieram ao Brasil desde 2016. Existem abrigos especificamente criados para o acolhimento de populações indígenas que desejam se refugiar no País. 

A palha buriti sendo tecida (Foto: Benjamin Mast)

A ideia de expor a produção das artesãs Warao teve início com uma visita da coordenadora do museu, Eliane Guglielme, ao abrigo indígena Pintolândia, em Roraima, mantido pela Operação Acolhida, que desde o início de 2018 coordena o acolhimento de refugiados e migrantes vindos da Venezuela em situação de maior vulnerabilidade. Essa visita ainda deve render outra exposição programada para 2020. 

As artesãs Marcelina Bermudez e Herminia Nuñez de Mariano ministraram uma oficina aberta ao público na semana de inauguração da mostra. As duas chegaram ao Brasil há menos de dois anos, com maridos e filhos. “Me dava tristeza, porque eu achava que não ia poder continuar trabalhando com o meu artesanato. Pedi a Deus que houvesse buriti aqui e quando cheguei, havia”, conta à seLecT Marcelina Bermudez. A única diferença é que, na Venezuela, elas usavam palhas coloridas naturais, e aqui usam corante para tingir o buriti. 

O artesanato para a etnia Warao é uma atividade de extrema importância em duas instâncias: a memória e a subsistência. O saber da tecelagem e do manejo com o buriti é algo que se passa de mãe para filha. Tanto Bermudez quanto Nuñez aprenderam a atividade com suas mães. “Aprendi e minhas filhas também têm o direito de aprender esse trabalho. Elas têm que aprender para que não se perca essa cultura” afirmou Herminia Nuñez de Mariano. 

Serviço
Ojidu – Árvore da Vida Warao
Encerrada
Museu A CASA do Objeto Brasileiro
Av. Pedroso de Morais, 1.216 – São Paulo
acasa.org.br