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Postado em 20/02/2013 - 2:50
Atitude rock-n’-roll
Nina Gazire

Em entrevista à seLecT, Jazz Domino Holly fala sobre o envolvimento com a causa feminista, o interesse no artesanato e sobre como a vida do pai famoso a influencia em sua tecelagem revolucionária

Holly

Legenda: Holly vestindo a camisa do pai, Joe Strummer, o lendário líder do The Clash (Foto: cortesia da artista)

Jazz Domino Holly cresceu em um ambiente onde criatividade e ativismo eram entendidos como coisas inseparáveis. Filha de Joe Strummer, o lendário líder da banda de punk rock inglesa The Clash, Holly utiliza técnicas manuais como bordado, tricô e patchwork como plataforma de protesto contra o consumismo exacerbado e como maneira de despertar a consciência em torno de questões como sustentabilidade e meio ambiente – prática chamada de craftivismo. A inglesa recentemente publicou um livro dedicado ao tema ,  chamado Queen of Crafts, ainda não publicado no Brasil. Em entrevista por e-mail a seLecT, ela fala sobre o envolvimento com a causa feminista, o interesse no artesanato e sobre como a vida de seu pai a influencia em sua tecelagem revolucionária.

Por que usar o artesanato como uma forma de ativismo feminista?

A arte e o artesanato foram historicamente considerados trabalhos femininos e, posteriormente, isso mudou. O artesanato ficou associado ao feminino, enquanto a arte é uma coisa mais masculina. Me envolvi com o craftivismo porque é uma maneira quase subversiva de as mulheres se reapoderarem dessas atividades e de dar ao artesanato um status maior ou igual àquilo que chamamos de arte. Acima de tudo, me sinto atraída pelo artesanato como uma plataforma de criatividade artística. Eu adoro a qualidade tangível, o ato de fazer algo com minhas próprias mãos.

Quais artistas mulheres você admira?

Fui muito influenciada por artistas feministas dos anos 1970, em especial por Judy Chicago. Ela criou um trabalho importante, Dinner Party, uma instalação que funciona como uma mesa de jantar que seria ocupada por todas as mulheres importantes de nossa história. Também gosto muito da Miriam Shapiro, que fazia colagens com tecidos, chamadas de Femmages. Eu amo o modo como essas artistas celebraram as técnicas artesanais tradicionalmente femininas. Louise Bourgeois é outra artista que vale a pena mencionar. Suas esculturas feitas de tecido e tricô são muito provocativas. Também gosto muito da Tracey Emin, particularmente dos seus cobertores bordados à mão. Tem também o Grayson Perry, que, além de artista e ceramista, é também um crossdresser. Ele usa a cerâmica como um meio subversivo e possui uma série de tapeçarias que lidam com a questão da luta de classes.

Como filha de um dos mais importantes nomes do rock n’ roll e do ativismo político, de que maneira você incorpora esse espírito rebelde na sua prática crafitivista?

Na minha infância eu sempre fui encorajada a desenvolver minha criatividade. Nunca tive limites em minha educação relativa a isso. Eu acabei aprendendo tudo que sei sobre artesanato sozinha e por isso nunca tive medo de experimentar coisas novas. Tenho coragem de tentar e não me importo com o que as pessoas pensam. E eu acho que essa é uma atitude muito rock n’ roll.

Você tem contato com outros artistas crafitivistas de outras partes do mundo?

Eu trabalho junto com a Federação Nacional do Instituto das Mulheres da Inglaterra onde eu fundei um grupo que hoje é muito influente chamado Shoreditch Sisters que busca fazer essa ponte entre o feminismo e o artesanato. Nós estamos envolvidas com uma campanha chamada Stop Violence Against Women e para mostrar nosso apoio, fizemos uma manta de patchwork enorme com mensagens que denunciam a falta de políticas para as mulheres no país. Eu também trabalhei com um coletivochamado Craftivism Collective, fundado pela ativista Sarah Corbett. Eles fazem muitos projetos criativos e frequentemente trabalham com campanhas que usam técnicas crafitivistas.

Muitas mulheres tem demonstrado descontentamento com o movimento feminista e ao mesmo tempo mulheres mais jovens estão começando a participar deste novo tipo de ativismo, como por exemplo o próprio crafitivismo, o Femen ou a Marcha das Vadias. Como você encara esse novo feminismo que surge? 

Não acho que as mulheres estejam desiludidas apenas com o feminismo, mas com os direitos humanos de maneira geral. Mas acho que isso está mudando. Acho excitante ver o poder e energia trazido para arena dos direitos das mulheres de uma maneira criativa e anárquica como é o caso do Femen e do Pussy Riot.

Por que você decidiu escrever um livro sobre crafitivismo? Como foi a reação das pessoas ao livro? Você recebe muitos pedidos de dicas de seus leitores?

Eu escrevi o livro porque as ideias já estavam transbordando da minha cabeça. Eu amo escrever do mesmo jeito que eu amo artesanato, então foi um jeito perfeito de colocar as coisas em perspectiva. Eu tenho muita sorte. Sempre interajo com os meus leitores por meio das redes sociais e essa troca é o espírito do crafitivismo.

* Publicado originalmente na edição impressa #9.

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