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Obra de Carina Levitan, no Arte Atual Festival
Postado em 31/05/2018 - 1:04
Caderno de notas: Carina Levitan
Artista britânica residente em Porto Alegre fala de suas esculturas sonoras feitas com materiais obsoletos
Theo Monteiro

Carina Levitan faz cantar os objetos. Sua experiência como musicista talvez tenha lhe dado a abertura necessária para ver potencial sonoro na mais inútil das sucatas. O trabalho não é simples: exige paciência, olho e, sobretudo, muita procura.  e peças de brechó, não são apenas “objetos encontrados”; derivam de um intenso processo de dissecação de máquinas e eletrodomésticos já sem utilidade, muitas vezes obtidos por doação de amigos. Nesse processo de desmonte, o resultado é a revitalização de lixo tecnológico, subproduto da chamada “cultura da máquina”. Essas espécies de “dejetos” de um mundo freneticamente consumista, que cada vez mais engole paisagens, oceanos e cidades, são transformadas pela artista em lúdicos mecânicos, até mais interessantes do que em sua forma original. Desse processo que envolve a combinação de materiais embrutecidos, impessoais e áridos, a artista produz sons delicados, leves, acolhedores. Uma complexa engenharia que encontra a poesia.

Qual a sua formação, e por onde o seu trabalho tem se direcionado?

Depois de estudar por 5 anos arquitetura e 2 anos artes visuais, na busca por uma graduação que completasse meu desejo de unir som, forma e movimento, encontrei na University of The Arts London, o curso de Sound Art & Design, onde me formei, em 2010. Desde então, tenho conduzido meu trabalho nesta direção. Realizo, além de exposições e performances com os instrumentos sonoros que construo, diversas trilhas para cinema, televisão e teatro, onde utilizo esses equipamentos com a intenção de diversificar as experiências sonoras do público.

Como se deu a proposta para o Festival Arte Atual? Conte um pouco do processo de elaboração e montagem.

O convite para participar do Festival Arte Atual chegou numa hora bem oportuna. Me encontro num momento reflexiva sobre o meu trabalho, com forte desejo de seguir para novas direções. Me senti estimulada a desenvolver algo novo e encontrei abertura pra isso, porém achei que seria uma ótima oportunidade de concluir e apresentar algumas peças que estavam inacabadas no meu estúdio.

Foi um período rápido de elaboração e construção das ideias, mas desse pequeno e breve laboratório, surgiram novas possibilidades de ações. Acabou por ser um trabalho em processo, mesmo que as peças estejam concluídas na exposição e apresentadas para o público, o festival serviu de estímulo e guia para novos caminhos do meu trabalho.

Pensando no tema da exposição, nas noções de absurdo, acúmulo e serialidade, como você vê essa discussão refletida no seu trabalho?

Eu achei muito engraçado ter sido convidada para participar do festival com este conceito. Nunca tinha pensado sobre o meu trabalho sob esta perspectiva e achei muito divertido enxergá-lo assim! Durante o processo de desenvolvimento das ideias, me agradava pensar nas noções de absurdo. Fazia sentido projetar máquinas inúteis ou de forças desmedidas e desproporcionais, me fazia rir enquanto trabalhava!

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