Carina Levitan faz cantar os objetos. Sua experiência como musicista talvez tenha lhe dado a abertura necessária para ver potencial sonoro na mais inútil das sucatas. O trabalho não é simples: exige paciência, olho e, sobretudo, muita procura. e peças de brechó, não são apenas “objetos encontrados”; derivam de um intenso processo de dissecação de máquinas e eletrodomésticos já sem utilidade, muitas vezes obtidos por doação de amigos. Nesse processo de desmonte, o resultado é a revitalização de lixo tecnológico, subproduto da chamada “cultura da máquina”. Essas espécies de “dejetos” de um mundo freneticamente consumista, que cada vez mais engole paisagens, oceanos e cidades, são transformadas pela artista em lúdicos mecânicos, até mais interessantes do que em sua forma original. Desse processo que envolve a combinação de materiais embrutecidos, impessoais e áridos, a artista produz sons delicados, leves, acolhedores. Uma complexa engenharia que encontra a poesia.
Qual a sua formação, e por onde o seu trabalho tem se direcionado?
Depois de estudar por 5 anos arquitetura e 2 anos artes visuais, na busca por uma graduação que completasse meu desejo de unir som, forma e movimento, encontrei na University of The Arts London, o curso de Sound Art & Design, onde me formei, em 2010. Desde então, tenho conduzido meu trabalho nesta direção. Realizo, além de exposições e performances com os instrumentos sonoros que construo, diversas trilhas para cinema, televisão e teatro, onde utilizo esses equipamentos com a intenção de diversificar as experiências sonoras do público.
Como se deu a proposta para o Festival Arte Atual? Conte um pouco do processo de elaboração e montagem.
O convite para participar do Festival Arte Atual chegou numa hora bem oportuna. Me encontro num momento reflexiva sobre o meu trabalho, com forte desejo de seguir para novas direções. Me senti estimulada a desenvolver algo novo e encontrei abertura pra isso, porém achei que seria uma ótima oportunidade de concluir e apresentar algumas peças que estavam inacabadas no meu estúdio.
Foi um período rápido de elaboração e construção das ideias, mas desse pequeno e breve laboratório, surgiram novas possibilidades de ações. Acabou por ser um trabalho em processo, mesmo que as peças estejam concluídas na exposição e apresentadas para o público, o festival serviu de estímulo e guia para novos caminhos do meu trabalho.
Pensando no tema da exposição, nas noções de absurdo, acúmulo e serialidade, como você vê essa discussão refletida no seu trabalho?
Eu achei muito engraçado ter sido convidada para participar do festival com este conceito. Nunca tinha pensado sobre o meu trabalho sob esta perspectiva e achei muito divertido enxergá-lo assim! Durante o processo de desenvolvimento das ideias, me agradava pensar nas noções de absurdo. Fazia sentido projetar máquinas inúteis ou de forças desmedidas e desproporcionais, me fazia rir enquanto trabalhava!
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