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Postado em 30/04/2012 - 1:59
Cindy Sherman épica
Juliana Monachesi

Metro Pictures, galeria nova-iorquina da artista, inaugura exposição paralela à retrospectiva no MoMA

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Legenda: Untitled (2010-11), obra de Sherman na Metro Pictures, em NY (Foto: Divulgação)

A identidade é um artifício que tem a fotografia como principal cúmplice. Estamos no mundo de Cindy Sherman, uma das artistas mais influentes de seu tempo. E, por isso mesmo, um dos poucos nomes que já tiveram a honra de ganhar, ainda em vida, uma retrospectiva na meca da arte moderna: o MoMA de Nova York. A exposição cobre a carreira da artista desde os clássicos Untitled Film Stills, dos anos 1970, até as obras fotográficas em formato de mural a que ela tem se dedicado desde 2010 – e que expõe pela primeira vez nos EUA na mostra do museu. São 171 obras-chave para compreender sua produção. E, a partir desta semana, os aficionados por fotografia contemporânea que já vinham se deliciando com a festa shermaniana ganham algumas cerejas a mais no bolo: exposição individual com obras novinhas em folha, na galeria Metro Pictures, em NY.

Nestes 35 anos de carreira, Cindy Sherman flertou com o cinema, as revistas femininas, a moda, a publicidade, a psicanálise e a história da arte, mas sua maior contribuição foi protagonizar, junto de nomes como Richard Prince, Sherrie Levine e Louise Lawler, a conquista de um espaço nobre para a fotografia no cânone da arte contemporânea. Antes desse grupo de artistas que se estabeleceu nos anos 1980, a fotografia era considerada uma arte menor. Hoje, se um jovem artista trabalhando com o suporte fotográfico ganha reconhecimento e tem suas obras absorvidas pelo conservador mercado de arte, é em grande parte graças a Cindy Sherman e seus colegas da Pictures Generation – termo cunhado pelo crítico Douglas Crimp, em 1977.

Sobre os novos trabalhos, vale acompanhar o press release da lendária galeria Metro Pictures. O texto de apresentação é impecável:

“Cindy Sherman exibe novas obras, de grandes dimensões, que retratam figuras femininas enigmáticas em impressionante isolamento diante de paisagens sinistras. Olhando diretamente para fora do quadro, em nossa direção, cada personagem é um espectro excêntrico, cuja escala épica, figurinos vívidos de Chanel e olhar intenso sugerem uma sentinela em pé entre o espectador e o segundo plano distante. Ao invés de protagonizar cenas em seu estúdio ou usando imagens projetadas, os fundos dramáticos de paisagem foram todos fotografados por Sherman e, em seguida, manipulados em Photoshop para obter um efeito de pintura. Ela se fotografou totalmente fantasiada, mas sem maquiagem, contra uma tela verde e depois completou as imagens digitalmente, manipulando suas feições e alterando as paisagens. A relação das mulheres com as paisagens que habitam varia, algumas personagens parecem ter pousado inexplicavelmente em um ambiente estranho e outras aparentam estar guardando sua própria terra fabulosa.”

“As fotografias são baseadas em um editorial que Sherman fez para a Pop Magazine usando roupas de arquivo da Chanel. As imagens publicadas na revista foram significativamente alteradas quando Sherman desenvolveu a série para esta exposição. Vestindo as pioneiras peças de alta costura da década de 1920 desenhadas por Coco Chanel às mais recentes coleções de Karl Lagerfeld, ela selecionou roupas idiossincráticas, muitas vezes fantasiosas, antes de pareá-las com imagens que ela fotografou na Islândia durante uma erupção vulcânica em 2010 e na ilha de Capri. Enquanto a série lembra a missão inicial da fotografia de mapear o Novo Mundo, o tratamento de Sherman referencia igualmente a tradição da pintura de paisagem do século 19, em que figuras solitárias são diminuídas pela natureza impressionante que as rodeia. As personagens iminentes de Sherman, no entanto, invertem esta visão transcendente ao relegar a natureza para o papel de coadjuvante.”

A retrospectiva de Cindy Sherman no Museum of Modern Art de Nova York vai viajar para o San Francisco Museum of Modern Art em julho e, posteriormente, para o Walker Art Center, em Minneapolis, e para o Dallas Museum of Art.

Leia mais sobre a exposição de Sherman no MoMA.