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Postado em 09/06/2014 - 8:10
De volta às raízes
Luciana Pareja Norbiato

Henrique Oliveira atinge síntese de seu ideário com megainstalação

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Legenda: Vista externa da instalação que ocupa todos os 1,6 mil metros do Anexo Original da Nova Sede do MAC-USP (foto: Divulgação)

Henrique Oliveira atingiu um ponto significativo com a instalação Transarquitetônica, que ocupa os 1,6 mil metros quadrados do Anexo Original do MAC-USP (ver nota adicional sobre a instalação). A princípio, a intervenção parece não se ligar organicamente com as linhas desenhadas por Oscar Niemeyer – ao contrário de como o artista costuma proceder em relação aos espaços ocupados. Não são visíveis as relações da grande escultura de Oliveira com a parede ou com o teto do espaço, muito menos ela se amalgama às colunas, entre as quais passa sem tocá-las. O que cria sua conexão com a sala é uma coesão conceitual, extraída aqui da reflexão sobre arquitetura, numa síntese do ideário do artista.

A experiência de imersão começa em um corredor – minimalista como o pavilhão onde está montada –, com paredes brancas. À medida que o visitante avança, a arquitetura modernista vai sendo despida do reboco uniformizante para mostrar seus blocos de cimento estruturais. Estes vão então se transmutando em construções similares às de favelas, que por sua vez se desintegram em taperas de pau a pique. Daí derivam no labirinto de lascas de tapume que acaba em vários nichos, cuja aparência se situa em algum lugar entre as cavernas habitadas pelo homem primitivo e as cavidades de um organismo formado por madeira. Talvez uma árvore gigante que tentasse retomar à força o espaço desnaturalizado.

A vista exterior da obra, desde o mezanino, lhe confere o aspecto de uma enorme árvore derrubada que se funde no espaço branco. As enormes raízes que se revelam desse ponto de vista originam um largo caule que culmina no edifício modernista. Como um cordão umbilical cortado, separando cultura e natureza.

O embate entre essas esferas é inconclusivo, sem uma tomada de partido, o que potencializa a problemática da obra e a coloca como exemplar em relação à trajetória de Oliveira. O que fica é a sensação de que, por mais que a cultura se desenvolva e a arquitetura domine a paisagem, a natureza encontra estratégias de invasão e permanência. Se não pela força de seus elementos, certamente na dualidade do homem, um ser concomitantemente social e animal.

* Review publicado originalmente na edição #18