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Postado em 14/04/2012 - 2:56
Desmonumentalização e vandalismo
Juliana Monachesi

Obra de Tatiana Blass instalada em frente à galeria Millan, na Vila Madalena, sofre vandalismo no feriado de Páscoa

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Legenda:Acidente # 15 (2011), óleo sobre tela de Tatiana Blass (Foto: Edouard Fraipont)

Aconteceu. A obra de arte pública que faz todo mundo que passa pela rua Fradique Coutinho, na Vila Madalena, em São Paulo, olhar – e em seguida olhar de novo para acreditar no que está vendo – foi alvo de vandalismo no final de semana passado. O que exatamente teria feito com que, diferente de tantos monumentos estrupícios espalhados pela cidade, este não-monumento de Tatiana Blass atraísse este grau de incivilidade? 

Porque aqueles são invisíveis e este é relevante? Aqueles são apaziguadores e este é inquietante? Esta parece uma explicação frágil, já que os monumentos tendem a ser autoritários e excludentes. Mas o fato é que determinadas obras potencializam esses atos. É intrigante o fato de serem altamente subversivas e contestadoras e, ao mesmo tempo, canalizarem para si uma violência que os monumentos estrupícios não fomentam. Basta lembrar o Tilted Arc de Richard Serra.

A seLecT conversou, por e-mail, com Tatiana Blass, que atualmente está realizando uma residência artística em Londres. A entrevista está reproduzida a seguir e explicita que há inúmeros motivos – poéticos, políticos – para quem não viu ainda a exposição individual da artista, intitulada Acidente, correr amanhã até a galeria Millan, porque é o último dia em cartaz da mostra.

seLecT – Gostaria de lhe pedir uma declaração sobre o episódio do vandalismo: que leitura você faz do ocorrido?

Tatiana Blass – Acho triste que tenha acontecido, mas também sabia da grande probabilidade disto ocorrer, porque isto acontece com tudo o que está no espaço público. É uma pena que a reação tenha sido pela destruição e não pelo respeito, uma vez que não existe uma vigilância permanente. O estranhamento da obra gerou uma violência gratuita, a incompreensão como desprezo raivoso. Vejo isto isto como uma reação muito comum à arte em geral, mas mais ainda à arte contemporânea.

seLecT – Visitando a exposição, uma leitura que o título da mostra permite é ver o “acidente” não apenas como o motivo das pinturas, em que acidentes são retratados sob uma névoa, mas também como o assunto metalinguístico delas, como se “acidente” fosse aquilo que as próprias pinturas teriam sofrido no processo de criação, como se as camadas de tinta finais fossem um “acidente” incorporado, é isso mesmo?

Tatiana Blass – A idéia de “acidente” surgiu mais por tentar apreender o instante em que tudo sai de sua ordem. Tem mais a ver com a observação do acidente do que com o acidente em si, do momento em que tudo pára e as pessoas ficam observando tentando saber o que de fato aconteceu. Quis transferir esta sensação para o observador da obra que tenta formar a cena do que está acontecendo na pintura.

seLecT – Nas duas esculturas apresentadas, esta investigação que já vem de algum tempo sobre a passagem do tempo e a ação do tempo sobre os objetos  envereda por novos caminhos, outras maneiras de falar do tempo, da fragilidade e da morte, você concorda?

Tatiana Blass – Acho que a idéia de tempo de espera, paralisado, de um fim continuado, é algo presente em todas elas. Cada obra é sua linguagem e seu corpo e seu material.