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Postado em 11/04/2012 - 9:34
DR de mais de um século
Juliana Monachesi

Pintura e fotografia: Bonnard e Vuillard na gênese da relação mais discutida da história da arte

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Legenda: No alto, Noële and Her Mother (1896), de Maurice Denis; acima, fotografia do artista feita em 1890

“Ao focar Bonnard, Vuillard e alguns outros pós-impressionistas, Snapshot traz um pouco de ordem para um tema complicado: a relação de concorrência entre pintura e fotografia no alvorecer do século 20. E no decorrer da exposição, as suas mais de 200 fotografias e 70 pinturas, gravuras e desenhos nos levam a pensar sobre a nossa própria cultura fotográfica em rápida mutação”, escreve a crítica do NYT Karen Rosenberg no artigo For Artists, a Hand-Held Revolution of Point and Click, sobre a exposição Snapshot: Painters and Photography, em cartaz na Phillips Collection, em Washington.

A exposição foi concebida pelo Museu Van Gogh, em Amsterdã, e segue para o Indianapolis Museum of Art depois da escala em Washington. Ela é resultado de uma pesquisa de dissertação feita há 30 anos por Elizabeth W. Easton, hoje diretora do Center for Curatorial Leadership, em NY, que descobriu no arquivo da família de Vuillard (1868-1940) uma coleção de fotografias feitas pelo artista francês. “Seu projeto cresceu para abranger os pares de Vuillard no movimento pós-impressionista Nabis: Bonnard, Maurice Denis, Félix Vallotton e Henri Rivière, bem como dois contemporâneos mais obscuros, o pintor holandês George Hendrik Breitner e o belga Henri Evenepoel. Breitner é pouco conhecida fora da Holanda; Evenepoel trabalhou em Paris ao lado de Matisse, mas morreu em 1899, aos 27 anos, na iminência do Modernismo”, conta Rosenberg.

Cada um destes artistas fez uso da novidade que a Kodak lançou em 1888, a primeira câmera portátil da história, de uma maneira particular, como “rascunho” de pinturas que seriam realizadas ou como registro de outras que já estavam prontas. E também variava bastante o compromisso de cada um com a mídia nascente, desde o desinteresse após poucos anos, caso de Bonnard, até a paixão duradoura, caso de Vuillard, que chegaria mesmo a fazer as próprias ampliações, segundo a crítica.

Sua análise ainda traz as inquietações de então para o presente: “Ao observar atentamente as fotografias nesta extensa mostra, você deve ter em mente as diferenças entre as primeiras câmeras portáteis e os pesados modelos de tripé utilizados por Degas e os impressionistas. A Kodak era muito mais fácil de transportar, mas dava ao fotógrafo menos controle sobre a imagem. Os artistas tinham de segurá-la na altura da cintura, olhando por um visor circular refletor, eles não podiam enquadrar ou focalizar seus disparos com precisão. Mas, como o smartphone tem nos ensinado, fotógrafos amadores têm todo o prazer em trocar perfeição por conveniência. E os inconvenientes da Kodak poderiam realmente agradar os Nabis: as imagens borradas e estranhas que produzia não foram uma grande ameaça para a pintura”.