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Postado em 15/06/2015 - 6:33
Expressão matérica
Luciana Pareja Norbiato

Em sua nova individual pela Mercedes Viegas Arte Contemporânea, Alvaro Seixas mostra desenvolvimento mais fluido de sua pintura paradoxal

Captura De Tela 2015-06-15 Às 15.51.23

Legenda: Pintura sem título (Autorretrato como Pintura Abstrata, 2015), de Alvaro Seixas (Foto: Mario Grisolli)

Se o concretismo é uma das influências marcantes na obra de Alvaro Seixas, a nova individual que a Mercedes Viegas Arte Contemporânea dedica à produção recente do jovem artista mostra a incorporação cada vez mais predominante de uma fluidez bastante atual na cena pictórica. Essa remonta ao expressionismo em sua valorização da ação do artista, mas ultrapassa sua versão original para conectar-se ao estado de coisas de nossa época.  

A versão construtiva da obra de Seixas já trazia algo de impreciso e material, numa recusa à perfeição proposta pelos concretistas. Agora, ele não se prende mais aos padrões visuais geométricos. Os labirintos, as listras, as divisões puras de cores no plano e sólidos que ressoam longinquamente ao pop vão cedendo lugar ao gesto cravado no volume matérico da tinta, em camadas sobrepostas, borradas.

O contraponto industrial vem na forma de inserções despreocupadas de traços em tinta spray, às vezes fluorescente, que se contrapõem ao processo lento de sobreposição de camadas mais ou menos foscas de tintas como acrílica e óleo. É flagrante a diferença da qualidade de cada material: se o spray tem as qualidades de velocidade e transparência, o óleo é massa e amalgama suas cores umas às outras, dando peso ao conjunto. 

A figura e a representação diluem-se ao plano do subjetivo, no qual a visceralidade da pincelada traça um universo particular que não deixa de reverberar como sintoma visual dos nossos dias. É a pluralidade de camadas incontidas, que se conectam como os infinitos sentidos de um mundo cada vez mais multifacetado e difuso, que permite a cada espectador encontrar nas telas de Seixas um retrato possível de sua própria subjetividade, sem cair numa expressão literal e, portanto, reducionista.

Alvaro Seixas – Paintbrush, 18/6 a 18/7, Mercedes Viegas Arte Contemporânea, Rua João Borges, 86, RJ