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Postado em 26/08/2011 - 3:58
Homem Solteiro Procura (cenas da vida real)

Em vídeos e fotos, Laurel Nakadate contracena com estranhos e documenta o poder e a vulnerabilidadedo corpo feminino.

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Lucky Tiger #151, de 2009. O poder da câmera é o tema central da obra de Laurel Nakadate. Foto: Laurel Nakadate 2010

Paula Alzugaray, de Nova York

O YouTube nem tinha nascido. Em 2002, quando a cultura das fotos instantâneas ainda não fora substituída pela webcam, Laurel Nakadate já tinha produzido seis séries de autorretratos em vídeo. Eles pareciam antecipar o fenômeno das redes sociais, teatros públicos onde agora publicamos nossas vidas privadas. Hoje, a produção dessa artista nascida em Austin, no Texas, e criada no estado de Iowa, é ainda mais prolixa e inquietante. Seus vídeos, fotografias elongas-metragens reunidos em individual no MoMA PS1, em Nova York, configuram um reflexo do poder manipulador que a câmera atingiu nesses dez anos de reality shows na internet.Uma câmera, um corpo (o seu) e outro corpo com o qual contracenar – de preferência de homens desconhecidos, encontrados em classificados de jornais e da internet – são os três ingredientes básicos das ações performáticas de Laurel Nakadate.

Nas situações em que aparece dançando ou posando para sujeitos cabeludos de meia-idade, dentro de suas cozinhas e quitinetes, ela evoca formas de exibicionismo sexual bem mais rudimentares do que as que são facilitadas hoje pelos meios digitais. Desde Happy Birthday (2000), em que se autorretrata promovendo festinhas de aniversário particulares, ou We Are All Made of Stars (2002), em que dorme nos tapetes das salas alheias, até Exorcism in January (2009), em que entra em transe vestindo botinhas country, a artista é sempre a estrela do show. A unica exceção é o longa-metragem Stay the Same Never Change (2009), exibido no Sundance Festival, em que a câmera se volta para a ação de outras personagens femininas.

O que aparenta ser um jogo puramente exibicionista assume um viés psicodramático na medida em que a artista se expõe a situações de perigo. Isso fica eminente quando ela aponta uma arma para os parceiros em Beg for Your Life (2006). Ou quando interage com caminhoneiros, em estradas remotas do Meio-Oeste americano. Em qualquer um desses casos, Nakadate está, de certa forma, atualizando o estilo contundente de artistas-feministas, como Valie Export, quando documenta a vulnerabilidade das relações e do corpo feminino.

Laurel Nakadate : Only the lonely
MoMA PS1, 22-25 Jackson
Avenue Queens, Nova York
até 8 de agosto


www.ps1.org