icon-plus
Postado em 10/09/2011 - 7:49
I’m not really from Brazil

Bananas is My Business: The South American Way é o Solo Project da ARTRIO

Paula Alzugaray

O motorista de táxi jura que nunca levou nenhum brasileiro ao Museu Carmen Miranda desde que ele foi inaugurado nos anos 1970, no Parque do Flamengo, no Rio de Janeiro. Somos as primeiras.

A decisão de ocupá-lo, convidando um grupo de artistas para interagir com seu acervo de documentos, partiu de um par de curadores que tampouco são brasileiros. Julieta González e Pablo León de la Barra se ampararam em referências alusivas à modernidade, arquitetura, utopia e a construção de narrativas históricas para conceber Bananas is My Business: The South American Way. A exposição coletiva configura o Solo Project da primeira edição da ARTRIO – Feira de Arte Contemporânea do Rio de Janeiro, que acontece no Pier Mauá, de até domingo 11 de setembro.

Na mostra, a dupla se engaja em um exercício interpretativo da iconografia tropical e dos meandros da diplomacia cultural entre Brasil e Estados Unidos durante os anos da Guerra Fria. Movidos por um impulso arquivista, González e León de la Barra confirmam que curadoria é também um exercício de catalogação e indexação. Isso se expressa no modo como as obras de Laercio Redondo, Fernando Bryce, Assume Vivid Astro Focus, Alberto Baraya e Milton Machado, entre outros, se relacionam com objetos pessoais e documentos dos baús de Carmen Miranda, como figurinos, fotografias e adereços tão bizarros quanto o par de revólveres usados em uma peça em que a baiana faz o gênero texano. Entre altos e baixos, destaca-se a instalação móbile e sonora Carmen Miranda: uma Opera da Imagem, em que Laercio Redondo monta seu próprio museu imaginário de relíquias. 

Do turbante-tabuleiro de Carmen, os artistas extraem frutas que, assim como a portuguesa que virou símbolo nacional, não são nativas do Brasil. Ernesto Neto escolhe o coco, Baraya elege a laranja da china e a banana da terra e Milton Machado exibe seu projeto de Hotel Tropical na Baía da Guanabara, feito em 1978. O edifício, em forma de banana “com arcos descascatantes” tem um viés visionário. Afinal, antecipa em 40 anos a era de especulação imobiliária que se inicia hoje na Baía da Guanabara, e que tem seu marco zero nas hastes móveis previstas no edifício projetado por Santiago Calatrava para o Museu do Amanhã. Calatrava is not really from Brazil. Mas diz que é brasileira a planta em que se inspirou para desenhar o edifício.