icon-plus
Postado em 05/05/2014 - 3:47
Maio em NY: primavera brasileira
Paula Alzugaray

Período traz boa safra de exposições com artistas brasileiros, entre eles Lenora de Barros, Paloma Bosquê, Lygia Pape, Carlito Carvalhosa e André Komatsu

Lenora

Legenda: Obra de Lenora de Barros na galeria Broadway 1602

O mês de maio marca tradicionalmente o início de uma nova temporada de exposições em Nova York, quando a cidade e suas instituições despertam de um longo inverno, trazendo atrações quentes e luminosas. Ai Weiwei no Brooklyn Museum, Carl Andre no Dia:Beacon, a nova curadoria de Massimiliano Gioni no New Museum e, no MoMA, o Brasil ganha a cena com a primeira retrospectiva de Lygia Clark em solo norte-americano.

A edição dominical do The New York Times deu o tom do que vem por aí: “Apesar de ser uma das mais artistas brasileiras mais celebradas do pós-guerra, Lygia Clark (1920-88) não é muito conhecida nos EUA, uma circunstância que será corrigida por ‘Lygia Clark: The Abandonment of Art, 1948-1988, que inaugura sábado no MoMA”, assina o crítico Ken Johnson.

Inaugurando no mesmo sábado 10, o MoMA preparou ainda uma mostra de filmes experimentais dos anos 1960 e 1970, com obras de Anna Bella Geiger, Arthur Omar, Leticia Parente, Rogério Sganzerla, entre outros.

Na esteira de Clark, a presença brasileira nunca esteve tão aquecida na Big Apple. O projeto Latitude, que na quarta feira 8 lança em evento o MoMA a revista Plataforma em parceria com a revista seLecT, contabilizou 18 exposições com trabalhos de mais 40 artistas brasileiros. Além disso, sete galerias do Rio e São Paulo expõem 30 artistas nas feiras Frieze NY e Outside Art Fair, a partir de quarta 8.

Lenora Bosque

Legenda: Vista da exposição “Ultrapassado”, com obras de Lenora de Barros e Paloma Bosquê (ao fundo)

A semana BR in NY começou com Lenora de Barros emprestando título de uma obra de sua autoria para a coletiva “Ultrapassado”, na galeria Broadway 1602, da alemã Anke Kempkes. A exposição explora o estatuto transitório da abstração geométrica na obra de dez artistas mulheres – três delas brasileiras: Lygia Pape, Paloma Bosquê e Lenora de Barros. Em outras palavras, propõe a virada de página de momentos quasi-eternos como o neoconcretismo brasileiro.

Carlito Carvalhosa divide a Sonnabend Gallery com o artista italiano Gilberto Zorio. O paulistano apresenta no Chelsea uma instalação que é um desenvolvimento da obra monumental “Sala de Espera”, concebida para o anexo do MAC-USP. Aqui, no entanto, o espaço limitado da sala onde a obra está instalada cria uma sensação de aprisionamento talvez compensado pela presença de um elemento novo na equação do trabalho: copos e taças de vidro sobre as quais as toras de madeira são tenuamente equilibradas.

Carvalhosa1

Legenda: Obra de Carlito Carvalhosa na Sonnabend Gallery

Mas se a questão é o equilíbrio instável do elemento construtivo, olhemos para as obras de Andre Komatsu, que estrutura sua poética sobre a observação das relações entre espaço urbano e estruturas de poder – enfatizando os processos contraditórios entre desenvolvimento e deslocamento, construção e ruína. Komatsu participa da excelente “Beyond the Supersquare”, no Bronx Museum, que explora as influências da arquitetura modernista do Caribe e da América Latina sobre a arte contemporânea. Ele mostra “Base Hierárquica (United States)”, que articula dois elementos conhecidos e constantes de seu trabalho: o tijolo de concreto e o vidro. Em “Beyond the Supersquare” participa também Mauro Restiffe, com sua já clássica série “Empossamento” (2003), fotografias do dia da posse do Presidente Lula, em sua face espetacular e em seus bastidores.

Komatsu

Komatsu2

Legenda: “Base Hierárquica (United States)”, obra de Andre Komatsu, no Bronx Museum