icon-plus
Postado em 15/06/2012 - 10:51
O q eu faço é cinema
Paula Alzugaray

Edição discute novos formatos do audiovisual e os desdobramentos do cinema no design, na moda e na música

Microcinema

“O q faço é música” é uma frase emblemática de Hélio Oiticica que define seu método de uso das palavras, coisas e ideias: intercalando-as como as faixas de um disco ou como notas musicais. É também o título de uma exposição individual do artista, realizada em 1986, na extinta Galeria São Paulo. “Descobri que o que faço é música e que música não é ‘uma das artes’ mas a síntese da consequência da
descoberta do corpo”, escreveu ele. 

Nos anos 1980, muito antes de as artes serem interligadas pela tecnologia, HO já sabia que música, cinema, artes visuais, texto,arquitetura, dança, design e moda eram partes de um mesmo “Programa”. E é por isso que em seLecT 06 nós fazemos cinema. E com isso citamos Hélio Oiticica.

Nesta edição dedicada à imagem em movimento veiculamos cinema, vídeo, televisão e as miríades de novos formatos audiovisuais que surgiram com as mídias digitais. Especialmente os microformatos. Mas não apenas isso. Falar de cinema é fazer circular também a música, o design, a gastronomia, a moda.

Autor do editorial de moda desta edição, o fotógrafo Roberto Wagner faz cinema quando refotografa Deserto Vermelho – clássico de Antonioni, de 1964, protagonizado por Monica Vitti –, aqui ambientado na paisagem pós-industrial de Cubatão, em São Paulo.

Eder Santos, que teve um perfil realizado por Angélica de Moraes, está hoje finalizando seu segundo longa-metragem, Deserto Azul. Mas ele não faz cinema só quando está imerso na produtora Trem Chic, envolvido em produções ou montagens de videoinstalações. Eder Santos faz cinema quando relaciona experiências gastronômicas a cinematográficas. Ou quando instala seus video-objetos no salão de seu restaurante, Salumeria Central, o mais novo point na noite de Belo Horizonte, que tem entre as grandes estrelas do cardápio a panturrilha de porco.

Esta edição de seLecT enaltece os fazedores de cinema, sejam eles cineastas, internautas ou designers. Na maior e mais importante feira de design do mundo, a Semana de Milão, Juliana Lopes selecionou designers-cineastas que demonstram a onipresença do audiovisual no banheiro, na cozinha e outros cantos insuspeitos da casa.

E inaugurando as reviews de música, Nina Gazire afirma que o grande mérito do disco-solo de estreia de Gaby Amarantos, a musa do tecnobrega, é tratar-se de uma “amálgama cultural” que equaliza ritmos e influências não apenas sonoras, mas visuais e culturais. Afinal, música e imagem nunca estiveram tão intrincadas.

Parafraseando HO, o cinema que se projeta em seLecT não é “uma das artes”, mas todas elas.