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Postado em 07/12/2012 - 6:47
Se uma feira fosse um teatro (Art Basel Miami – parte 2)
Paula Alzugaray

No palco, Chris Dercon, diretor da Tate Modern, entrevista o artista norte-americano Richard Tuttle

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Legenda: Chris Dercon entrevista Richard Tuttle em Art Basel Miami Beach

No primeiro encontro da série Conversations, da feira Art Basel Miami Beach, quinta feira 6, o diretor da Tate Modern Chris Dercon entrevistou o artista Richard Tuttle, residente entre Nova York e Novo México. O espectro da conversa foi determinado pelos atuais interesses do artista norte-americano: têxteis e antropologia. “Power of making” era a expressão que aparecia periodicamente no telão no fundo do palco, dentro de uma sequência de imagens em loop. As palavras representam um jogo de forças e um teste de valores: entre a concepção ocidental de arte e os meios “tradicionais” de produção, entre técnica e manualidade, entre cultura e civilização. “De repente as pessoas se tornam massivamente interessadas em têxteis”, diz o diretor da Tate Modern. “Por que não olhar para outras culturas?”, pergunta o artista com ímpeto de antropólogo.

Entre uma frase e outra, Tuttle deixa aflorar o performer. Veste uma camisa com estampa de onça e apresenta ao público um mostruário de tecidos garimpados em comunidades de tradição têxtil. Às definições de feira que surgiram ontem – panóptico, labirinto – hoje acrescenta-se a de teatro. Por isso é tão importante, cada vez mais, que as feiras tenham palcos e sobre eles subam as estrelas que precisamos contemplar e que buscamos nos espelhar.

Os personagens desse teatro: o artista-performer que, vestido de onça, acaba por salientar o aspecto do ocidental explorador e colonizador, e o diretor de instituição que, desde o centro do mundo, observa as periferias com um misto de ironia, complacência e demagogia. O enredo desse teatro: falar de arte “expandida” para além de seus limites tradicionais. Issey Miyake, Yamamoto e Steve Jobs são alguns dos personagens secundários evocados nessa trama tecida para impressionar. E quando Dercon associa as falhas nos tecidos que interessam a Tuttle com o romantismo e a filosofia alemã, o texto chega ao ápice de sua dramaticidade. Sobre a plateia desse teatro e seu riso coreográfico. A peça só se completa quando o público ri em uníssono, na hora em que se deve rir, conotando concordância e almejando pertencimento.