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Postado em 07/09/2013 - 9:03
Sempre na moda
Luciana Pareja Norbiato

Na ArtRio, concretos, cinéticos e seus discípulos continuam como alguns dos preferidos dos compradores e tomam stands em geral 

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Legenda: Detalhe de obra de Carlos Cruz-Diez da galeria Raquel Arnaud

“Não dá nem pra dizer que é uma tendência, está consagrado já, é o que está mais na moda”, define Fábio Cimino, galerista da Zipper, quando perguntado se há uma predileção dos colecionadores  por construtivismo e, mais especificamente, por seus irmãos made in Brasil, concretismo e neoconcretismo, que se desdobram na arte cinética. 

Não é de hoje que as feiras e galerias sentem o frisson com relação a esses movimentos, que ganham popularidade por seu forte componente gráfico e pelos jogos visuais, ilusões de ótica e quetais. Na ArtRio, não é diferente. Até galeristas estrangeiros que não conhecem tão bem os contornos desses estilos na arte brasileira acabam expondo seus exemplares, caso de Emmanuel Hervé, que representa Sergio Sister em Paris e tem no seu stand alguns dos tijolinhos do artista, sutilmente construtivos.

O interesse de concretos é tal que ajuda a alavancar carreiras de jovens artistas como Ana Holck e Kboco, por exemplo. Holck, representada pela Zipper, mas em cartaz também atualmente na galeria Carbono (stand e sede em SP), reflete em seu trabalho os cânones concretos sem perder a graça contemporânea na criação de tridimensionais. Kboco, que figura com uma grande tela na SIM Galeria, de Curitiba, usa o apuro formal para construir intrincados jogos pictóricos que se apropriam de elementos ornamentais como arabescos em composição de base neoconcreta.

Carbono reverbera em seu stand na feira a exposição de sua sede paulistana, intitulada Cinéticos e Construtivos. Daí não ser acaso exibir tantos trabalhos voltados ao tema. Alguns dos artistas ali exibidos chegam a soar redundantes na comparação a outros stands, como Jesús Rafael Soto, um dos top 5 da feira, com obras em todos os quatro armazéns que sediam a ArtRio, e Raul Mourão, um dos cinéticos contemporâneos mais bem representados na feira, com obras também na galeria Nara Roesler (SP), Celma Albuquerque (BH) e Lurixs (RJ).

Essa influência de um dos períodos mais característicos e incensados da arte brasileira se faz sentir inclusive na hora da escolha do colecionador. “Existe um reconhecimento visual, as pessoas veem e sentem que de alguma forma já viram isso antes, é uma memória atávica”. Até mesmo um de seus jovens representados, o português Rodrigo Oliveira, acabou se apropriando delicadamente da influência construtiva na arquitetura colorida de caixinhas de fósforo presentes no stand da Zipper.

Aliás, o fato de ter tantos seguidores diretos e indiretos aponta a permanência do concretismo e da arte cinética no imaginário da arte nacional. “Eu fui a introdutora da arte cinética no Brasil nos anos 80 e de repente virou moda. Eles dialogam muito bem com os outros artistas da minha galeria, geométricos etc.”, afirma Raquel Arnaud, validando seu papel precursor no estabelecimento doss cinético no país. Não à toa, seu stand traz obras de peso de Jesús Soto e Carlos Cruz-Díez, outro blockbuster da feira, com participação também na Polígrafa, de Barcelona, entre outras.

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Legenda: Obra do português contemporâneo José Patrício, presente no stand da galeria Nara Roesler na feira carioca

“Nem posso dizer que é uma tendência, está totalmente consagrada”, afirma Ricardo Rego, da Lurixs (RJ). A galeria tem um recorte que vai dos precursores, como o neoconcreto Helio Oiticica e seus Metaesquemas expostos nas paredes do nicho na ArtRio, a nomes claramente inspirados, como o coletivo MUDA, formado por arquitetos que “flertam com a melhor tradição muralista brasileira, de Athos Bulcão, Burle Marx, etc.”. 

Na Nara Roesler, a mescla da tradição e do contemporâneo põe lado a lado Abraham Palatnik e Julio le Parc e o português José Patrício, que se apropria do construtivismo de forma divertida, com uma composição em que botões formam campos de cor. A quem não gosta, um “sinto muito”: a geometria e os cinéticos seguem com fôlego total entre artistas, galerias e colecionadores.

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Obra do coletivo Muda, representado pela galeria carioca Lurixs