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Postado em 29/11/2016 - 1:01
Transformação extramuros
A #select33 aborda um dos pilares essenciais do sistema de arte: a educação. Além disso, anuncia o Prêmio e Seminário seLecT de Arte e Educação 2017
Paula Alzugaray

Depois de dedicar edições à curadoria, ao mercado, ao museu e ao colecionismo, seLecT #33 retoma sua série autorreflexiva sobre o sistema de arte para abordar um de seus pilares essenciais: a educação.

Nesta introdução, evocamos a herança que o modernismo deixou às escolas de arte, apontada por Boris Groys no texto Education by Infection (Art School – Propositions for the 21st Century, The MIT Press, 2009): as contaminações entre arte e vida. “O modelo de Kazimir Malevich para a arte e o ensino da arte segue a metáfora da evolução biológica: artistas devem modificar o sistema imunológico de sua arte de forma a incorporar o novo bacilo da estética, para sobreviver a ele e encontrar um novo equilíbrio interno, uma nova definição de saúde.”

A convicção de que a arte contagia o mundo tanto quanto o mundo contagia a arte – e que esse autocontágio mútuo deve ser cultivado pela arte-educação, “a fim de não matarmos o bacilo da arte” – é superoportuna quando queremos falar da educação informal de arte e da presença da arte na educação formal.

Esta edição se coloca em um momento de urgência, quando uma proposta de Medida Provisória (746/2016) quer abolir a obrigatoriedade do oferecimento de artes, filosofia, história, sociologia e educação física no Ensino Médio brasileiro. Na seção Coluna Móvel, duas autoridades máximas no assunto argumentam e reivindicam. A professora Ana Mae Barbosa enumera pesquisas que provam que as artes desenvolvem a cognição e a inteligência racional: “Retirar a arte das escolas do Ensino Médio é reduzir a possibilidade de desenvolvimento de habilidades em outras disciplinas além das artes”.

Rosa Iavelberg, da Faculdade de Educação da USP, diz que a MP será eficaz em formar um aluno acrítico, facilmente manipulável pelas regras do sistema produtivo. E lembra, em eco a Malevich e Groys: o que se aprende na escola extrapola seus muros.

O desafio de manter arte e vida em permanente autocontágio é também o intuito de artistas, curadores e pedagogos interessados no aprendizado, nas trocas e transmissões de conhecimento que se fazem extramuros. Nesta edição, eles estão representados nos trabalhos de Jorge Menna Barreto, Humberto Vélez, Esther Ferrer, Nádia Taquary e Ivan Grilo, que foi ao Maranhão dar continuidade a seus estudos sobre outras formas de conhecimento, a partir de rituais afro-ameríndios. E especialmente nas ações artístico-pedagógicas de Luis Camnitzer, que afirma que “o museu é uma escola”, onde o artista aprende a se comunicar e o público aprende a fazer conexões.

Fala-se nesta edição em “outros saberes”, em outros jeitos de aprender e pensar. Em entrevista a Márion Strecker, Sofía Olascoaga, cocuradora da 32a Bienal de São Paulo e pesquisadora da Pedagogia Radical, fala da necessidade de “outros jeitos de aprender e desaprender que não fazem parte da definição clássica de conhecimento, nem são projetados desde uma lógica ocidental”. Sabemos que essa é, hoje, uma prioridade máxima, quando fundamentalistas e supremacistas brancos, inimigos da diversidade, chegam ao poder.

seLecT coloca-se nesse lugar de encontro, de perguntar, duvidar, conectar com outros saberes. É por tudo isso e mais um pouco que temos a imensa satisfação de anunciar o Prêmio e Seminário seLecT de Arte e Educação 2017, que nasce para exaltar as experiências inovadoras nos últimos dois anos em todo o Brasil e apontar para o futuro, reafirmando a importância do caráter formador e transformador da arte. Saiba mais em  www.premio-select.com.br