icon-plus
Postado em 06/02/2014 - 6:38
Vendaval de fotografias
Guilherme Kujawski

Projeto fotográfico anual em São Paulo tem mostras diversas, coleção exclusiva de imagens para colecionadores e oficinas ministradas pela famosa agência Magnum Photos

Cestari_body

Legenda: Foto integrante da exposição de Caio Cestari na loja Fast Frame (R. Fradique Coutinho, 953)

Desde 25 de Janeiro, dia do aniversário de 460 anos de São Paulo, os habitantes da cidade estão sendo assolados por um verdadeiro vendaval de eventos ligados à fotografia. Sobre esse “fenômeno climático” imagético foi feita uma menção en passant em nossa página no Facebook; mas foi tão en passant, que mesmo a expressão “…e o vento levou” não daria conta de tamanha negligência. Mas nunca é tarde para expor um mea culpa.

Estamos falando da 5ª Mostra SP de Fotografia, evento já conhecido pelos citadinos, sejam eles fotógrafos profissionais, amadores ou mesmo curiosos. Neste ano, a mostra evoluiu e está mais parruda: são mais de 150 fotógrafos e 40 exposições espalhadas pelos recônditos da Vila Madalena, tradicional bairro boêmio de São Paulo. Uma das características da mostra desse ano – e o que sugere as ambições do evento de se alinhar aos maiores festivais de fotografia do mundo – é a parceria com a famosa agência Magnum Photos, que vem ao país para ministrar duas oficinas e uma palestra no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Com a devida vênia, a seLecT aponta para alguns destaques. Como bem lembrou Fernando Costa Netto (integrante do coletivo de usuários de polaroides SX-70), no texto de introdução da brochura, 2013 foi um ano marcado por protestos no Brasil (e no mundo). Por isso, a presença significativa de fotógrafos e coletivos interessados na arte do fotojornalismo, como o pessoal do movimento Foto Protesto, que promove exposições a céu aberto na cidade, todas repletas de registros das ações violentas da Polícia Militar durante as manifestações. Também nessa toada, vale citar o trabalho de Caio Cestari, que documenta com coragem as operações táticas do Black Bloc. Os novos fotojornalistas são verdadeiros herdeiros de gente como Evandro Teixeira, notório por documentar com fidelidade os acontecimentos de rua originados pelo golpe militar de 1964. 

Poderoso (visualmente e conceitualmente) é o trabalho de Marcelo Pallotta, com curadoria de Eder Chiodetto, que pode ser visto no restaurante Rothko (r. Wisard, 88). São instantâneos de fragmentos de signos (em sua maioria, signos linguísticos), que, juntos formam versos, remetendo à produção da poesia concreta. A ausência de luminosidade como elemento de composição de imagens (como uma variante da técnica do chiaroscuro) é a estratégia estilística de Leandro Giannotti, que pode ser constatada nas paredes do restaurante Ruaa (r. Mourato Coelho, 1.168). Não deixe de ver também o trabalho do Coletivo Trema (composições com lixos retirados do Rio Tietê) e o ensaio foto-ficcional de Beth Barone, com fotos de pessoas desconhecidas dos anos 1920 e 30.

Por fim, vale lembrar que, durante o evento, acontece o lançamento da Academia Paulista de Fotografia, iniciativa da DOC Galeria. O projeto lança uma coleção composta por 12 fotografias exclusivas de São Paulo, captadas por renomados como Claudia Jaguaribe, Klaus Mitteldorf, Paulo Vainer (e outros, como o pessoal da CIA de Foto). As peças são voltadas aos associados com interesses em formar uma coleção (uma tiragem será destinada ao Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba).

SP, 460 acontece até o dia 23 de Fevereiro. Confira a programação completa no site do evento.