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Pintura de Ana Elisa Egreja no stand da Galeria Leme, na ArPa [Foto: estúdio celeste]
Postado em 29/06/2024 - 5:37
ArPa 2024: Fadiga identitária?
Aproveite o fim de semana para ter a experiência transcendente da suspensão do tempo no Pacaembú

A terceira edição da feira ArPa nem parece que está acontecendo na década de 20. Percorrer seus corredores e encontrar obras de arte que versam predominantemente sobre arte é bastante sintomático. Onde estão os artistas negros, indígenas e dissidentes de gênero, protagonistas de todas as exposições de anos recentes? Estão todos lá, mas poucos deles abordando temas identitários nas obras expostas. Novo sinal dos tempos?

O curador Igor Simões, em entrevista à celeste em 2023, já sentenciava que o predomínio de trabalhos figurativos de artistas negros em galerias reencenava a lógica colonial de comercialização de corpos negros. A exposição Dos Brasis, que está em itinerância por unidades do Sesc, da qual é o curador, com Lorraine Mendes e Marcelo Campos, reúne exemplos de arte abstrata, conceitual, sem índices visíveis de identidade racial, que agora parece ser a tônica da participação destes artistas na feira ArPa. 

No texto do catálogo de Dos Brasis eu faço uma pergunta, uma provocação: ‘Será que se uma mulher preta tivesse pintado uma série de casarios e de bandeiras de festas juninas, planificadas, ela seria vista a partir de um diálogo com a geometrização, com o que viria a ser o concretismo e o neoconcretismo?’ Será? Não é dentro da obra que essas categorias moram, elas moram fora. E o fora dessas obras é a sociedade brasileira”, provoca Simões na entrevista mencionada.

Obras de Rochelle Costi no stand da Galeria Albuquerque Contemporânea, na ArPa [Foto: estúdio celeste]
O FORA DAS OBRAS É SOCIAL
A chegada à feira no Pacaembu (importante frisar que a entrada é pela lateral do estádio) causa surpresa pela temática de naturezas-mortas em dois solo projects seguidos: o de Ana Elisa Egreja no stand da Galeria Leme e o de obras inéditas de Rochelle Costi na Albuquerque Contemporânea. Muita arte abstrata também, como na Lume (mostra de Nazareth Pacheco e Amalia Giacomini), na Marli Matsumoto (expo de Elvis Almeida e Leka Mendes) e na quadra galeria (que promove diálogo entre obra de Manu Costa Lima e Marcelo Pacheco), e um aceno ao gênero da paisagem nos estandes da Nara Roesler (solo de Manoela Medeiros), Gomide&co (solo de Nilda Neves) e Fortes d’Aloia & Gabriel (mostrando um divertido embate entre trabalhos de Luiz Zerbini e Sara Ramo). O que  nos diz essa amostragem da arte em São Paulo da atual sociedade paulistana?

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