Nascido em Crateús, município do Ceará, Francisco de Almeida cresceu observando o trabalho do pai, ourives e fotógrafo; da mãe, bordadeira e costureira; e da avó, rendeira. Aos 15 anos, entendendo-se também um artista, Francisco se mudou para Fortaleza e ingressou em cursos da Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou pintando figuras humanas e paisagens, em pinceladas de tinta à óleo, sobrepostas ao desenho, esboçando os temas que orbitariam sua poética em cinco décadas de trabalho: o misticismo e o imaginário nordestino.

Depois vieram os desenhos a carvão e os retratos a pastel seco e a pastel óleo. Mas a gravura chegou logo para definir sua paixão e o desenho e a pintura foram submetidos à hierarquia da produção gráfica. “Estudei diversas técnicas e fui aluno do gravurista cearense Sebastião de Paula. Quando me aproximei da xilogravura, além de me identificar, vi a oportunidade de juntar todas as técnicas que estudei em um só procedimento”, explica o artista de 60 anos, à seLecT.
Como um alquimista da arte, Francisco de Almeida vive em experimentação de técnicas, inventando ferramentas de trabalho. Em determinado momento do percurso artístico, a grande quantidade de matrizes produzidas despertou no artista a vontade de vê-las em conjunto e em continuidade, resultando assim em trabalhos de proporções descomunais. Os Quatro Elementos I – O Dia e A Noite, gravura comissionada para a 7ª Bienal do MERCOSUL, em 2009, intitulada Grito e Escuta, tem 20m x 1,50m e é considerada a maior xilogravura do mundo. O artista conta que, ao total, foram nove meses de produção. O rolo de vinte metros de papel impresso foi desenrolado com a ajuda de um dispositivo de catracas de bicicleta (desenvolvido pelo próprio artista) e a gravura pode, enfim, ser completamente visualizada apenas no ato da exposição. Como um elemento-surpresa.
Suas “xilo-instalações” são um procedimento inédito e altamente inventivo. Possuem o aspecto encantatório das escritas sertanejas, atualizadas para o campo da arte contemporânea.