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(Foto: Margot Krasojevic)
Postado em 27/03/2014 - 8:19
Além das prisões-jaula?
Novos projetos de presídios podem ser um ponto de partida para o retorno da crítica arquitetônica
Guilherme Kujawski

Na edição de Fevereiro da Fulcrum, publicação da Associação Londrina de Arquitetos, Marco Biraghi, professor da Politécnica de Milão, se pergunta: onde está a produção crítica de arquitetura? Onde se encontram as reflexões vitais de arquitetos racionalistas como Pietro Maria Bardi e Alessandro Mendini? Em resumo: será que o pensamento crítico na área de arquitetura se perdeu de vez na seara do mercado?

Talvez seja oportuno incitar uma reflexão por meio de três recentes projetos de presídios, devido a sua natureza polêmica e contraditória. Independente de questões jurídicas e biopolíticas, os projetos de inovação e retrofit de presídios (não confundir com a privatização do sistema carcerário) merecem definitivamente um olhar crítico, principalmente se contiverem em seu bojo a reversão do velho conceito de panóptico e uma suposta valorização da cultura humanitária.

À primeira vista, parece uma daquelas ilustrações de capa de livro de ficção científica, mas trata-se na verdade de um projeto de presídio off-shore, assinado pela jovem psicóloga e arquiteta croata Margot Krasojevic. Tecnicamente, a estrutura flutuante, desenhada por meio de técnica paramétrica, assemelha-se a uma plataforma de petróleo, na qual os conveses são apoiados em flutuadores ancorados por cabos no fundo do oceano. O sistema de posicionamento dinâmico é estabilizado por turbinas de energia hidráulica, que também funcionam como geradores de energia elétrica para o complexo. As celas são revestidas por telas holográficas, que capturam a paisagem marítima externa e a reflete internamente, proporcionando aos detentos a sensação de amplitude espacial. Pergunta-se: colocar presos no meio de um oceano não seria uma forma “branda” de pena capital?

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(Foto: OOIIO Architecture)

O escritório espanhol de arquitetura OOIIO realizou o projeto de um complexo carcerário para mulheres reclusas na Islândia, país conhecido por suas avançadas políticas de direitos humanos. As unidades da estrutura, feitas de concreto pré-fabricado, se encaixam como um mecanismo de rodas-dentadas. O exterior é coberto por engradados móveis de turfa, onde as prisioneiras podem plantar flores da região. Além da óbvia função paisagística, o revestimento natural serve também como isolante térmico, recurso fundamental em climas subpolares. Resta saber se haverá uma massa crítica de prisioneiras nórdicas, levando em conta que a Suécia recentemente desativou quatro unidades presidiárias devido a falta de condenados.

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(Foto: LAN Architecture)

O escritório parisiense de arquitetura LAN é responsável pelo projeto da prisão de segurança mínima de Nanterre, comuna francesa localizada próxima à Paris. O volume monolítico coberto por lâminas delgadas de metal ocupa uma área de 4,4 mil metros quadrados em região residencial. Também fazem parte do complexo o Gabinete da Defensoria Pública e as instalações da Guarda Prisional, serviço voltado a concessão de liberdades condicionais. Além das esparsas janelas dobráveis em forma de persiana no lado externo, uma grande abertura na fachada principal é o único elemento permeável entre a construção correcional e os habitantes da cidade. Apesar do elemento “inclusivo”, há no ar um falso sentido de “inserção”.

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arquitetura   presídio