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Postado em 06/02/2023 - 5:37
DESCOLONIZAR AS NARRATIVAS
Motivado pelos protestos ocorridos na instituição em 2015, em decorrência do uso da blackface em peça teatral, o Itaú Cultural criou um Comitê de Questões Raciais e iniciou um conjunto de ações com o intuito de refletir sobre o racismo estrutural na sociedade brasileira e promover, em nível institucional, ações educativas e de combate ao preconceito

PROJETO

DIÁLOGOS AUSENTES
O projeto Diálogos Ausentes inicia as ações da instituição no combate ao racismo, retratando as múltiplas faces das vivências negras no Brasil. Foi composto de exposição com curadoria de Diane Lima e Rosana Paulino e uma série de diálogos sobre a presença de artistas negros e negras nas artes visuais, teatro, dança, literatura e música, com a participação da cantora Juçara Marçal (1962), do cineasta Joel Zito Araújo (1954), da cantora e compositora Luedji Luna (1987), entre outros. A mostra, apresentada entre dezembro de 2016 e janeiro de 2017, em São Paulo, reuniu trabalhos de 15 artistas e coletivos negros, entre os quais Dalton Paula (1982) e Renata Felinto (1978). Em itinerância para o Galpão Bela Maré, no Rio de Janeiro, em parceria com o Observatório de Favelas, ganhou em fotografias de Sobral releituras de obras de Jean-Baptiste Debret (1768-1848) sobre costumes de africanos escravizados no Rio de Janeiro. Na mediação da última conversa do ciclo, a curadora Diane Lima define a linha dorsal do ciclo no desafio de “partir de um discurso político pautado na fala e promover esse lugar onde se possa não somente falar de um corpo racializado, mas de um corpo que é racializado e que pode falar de qualquer coisa”.

VERBETES

ROSANA PAULINO
Rosana Paulino (São Paulo-SP, 1967). Artista visual, pesquisadora, educadora. Destaca-se por fazer da imagem impressa um meio estruturador de seu pensamento visual, desdobrando-a em diferentes linguagens. Desde os anos 1990, investiga questões que eram pouco discutidas no cenário artístico brasileiro, como gênero, identidade e representação negra. (…) Embora parta de elementos pessoais, como a memória do patuá na casa de infância e os retratos de família, essa busca por identidade só se realiza no coletivo, na reunião de muitos indivíduos, para tornar manifesta a força de sua representação.

(Foto:Marcus Leoni)

SIDNEY AMARAL
Sidney Carlos do Amaral (São Paulo – SP, 1973 – Idem, 2017). Artista visual e professor. A extensa produção de Amaral explora, em diferentes linguagens, a versatilidade poética e formal dos objetos cotidianos. Nas pinturas, problematiza questões identitárias, ampliando o debate artístico brasileiro sobre a representação do homem negro contemporâneo. (…) O autorretrato fotográfico é usado como suporte para a criação de pinturas nas quais o artista se coloca em meio a objetos que falam de relações afetivas. Essas relações são amplificadas pela dramaticidade narrativa e por uma atmosfera enigmática e perturbadora, familiar à pintura metafísica.

DIANE LIMA
Diane Sousa da Silva Lima (Mundo Novo, Bahia, 1986). Curadora, diretora criativa, pesquisadora e designer. É uma das vozes do pensamento feminista negro no debate brasileiro contemporâneo. Questiona os paradigmas do sistema artístico e propõe modos de produção menos hierárquicos e que incluam saberes multiculturais. Em Salvador, durante a formação em comunicação social (2008) e em meio aos estudos de história da arte, dedica-se ao trabalho curatorial. (…) A partir dessas experiências, Diane estrutura conceitualmente o ponto de vista do sujeito criador sobre o mundo como eixo para o trabalho curatorial. A perspectiva de uma pensadora negra em um país marcado pelo processo de colonização norteia também sua pesquisa de mestrado sobre a produção contemporânea de artistas afro-brasileiros, Fazer sentido para fazer sentir: ressignificações de um corpo negro nas práticas artísticas contemporâneas afro-brasileiras (2017), defendida na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Diane Lima integra o coletivo curatorial que assina a 35a Bienal de São Paulo.

(Foto: Marcus Leoni)

TAMIKUÃ TXIHI
Tamikuã Txihi Gonçalves Rocha (Pau-Brasil, Bahia, 1993). Artista visual e poeta. Liderança indígena, guardiã da Mãe Terra e da Irmã Natureza, entende a arte como um meio de promover a proteção física e espiritual dos corpos, territórios e conhecimentos dos povos originários. Transita por múltiplas linguagens, entre elas pintura, intervenção urbana e vídeo. Tamikuã é do povo Pataxó, cujas aldeias ficam na Terra Indígena Caramuru-Paraguaçu, na Bahia (entre os municípios de Pau-Brasil, Itaju do Colônia e Camacã), e na Terra Indígena Fazenda Baiana (em Camamu). Vive na cidade de São Paulo, na Terra Indígena Jaraguá, com o povo Guarani Mbya, falantes de língua guarani, na comunidade Tekoa Itakupe, da qual é vice-cacique em 2017. Tekoa, em português, significa “o lugar onde é possível realizar o modo de ser”, e Itakupe, “atrás da pedra”, que é o Pico do Jaraguá.