Na seLect #35, dedicada ao tema Extremismo, a seguinte pergunta foi lançada para os convidados da seção Fogo Cruzado, em junho de 2017: O Brasil é ainda a terra do homem cordial? O escritor Joca Reiners Terron, a produtora cultural Letícia Monte, a historiadora Lilia Schwarcz e o jornalista Zuenir Ventura expressaram suas críticas, ressalvas ou pontos de adesão ao conceito elaborado por Sérgio Buarque de Holanda no final dos anos 1930. “O ‘cordial’ a que o grande historiador se refere deriva etimologicamente do latim cor, cordis, que significa ‘coração’”, o órgão que comanda as ações com predominância das emoções.”, diz Zuenir Ventura.
A consequência disso, segundo Lilia Schwarcz, é o inflacionamento da esfera privada em detrimento da pública. “Se levarmos em consideração o lembrete de Holanda, o Brasil jamais foi um país pacífico. Como pode ser não violento um país que foi o último do Ocidente a abolir a escravidão e recebeu 40% dos africanos que saíram compulsoriamente de seu continente? Como pode ser pacífico um país cuja concentração de renda e de prestígio parece herdeira do período colonial e do paternalismo imperante”, argumenta a historiadora.
Para ela, a corrupção é a maior ilustração da deturpação do interesse público em prol do privado. E por todos esses exemplos que Schwarcz elenca, ainda seguimos no processo de “desconstrução” da imagem de benevolência da população brasileira e da sua cordialidade em meio à opressão. Leia ou releia as respostas aqui.