icon-plus
O Nascimento da Folha (1997), de Antonio Henrique Amaral | Foto Divulgação
Postado em 23/09/2021 - 2:25
Agenda do fim do mundo (22 a 29/9)
A Volta do Manto Tupinambá, Crônicas Cariocas, festivais de cinema e teatro estão entre os destaques da semana
Da redação

“declaro a quem possa
digerir
que certos princípios
perderam
seus fins
já não me importa
estar em postura
composta
a partir desta linha
os meios
me atravessarão”
Chaotic Neutral, de Jarid Arraes, organizadora da antologia Poetas Negras Brasileiras

Antonio Henrique Amaral: Pelo Avesso
Na primeira mostra desde que seu espólio passou a ser representado pela Casa Triângulo, a curadoria de Pollyana Quintella e Raphael Fonseca busca estabelecer um recorte menos usual da produção de Amaral (1935-2015), com o interesse de recontextualizar trabalhos cuja centralidade é o corpo e suas mais variadas negociações. “Nesse trânsito, o artista soube conjugar o pessoal e o político; o íntimo e o coletivo, numa obra transpassada pelas influências da cultura de massas, da cultura popular e pelos dilemas de seu próprio tempo”, contam. A experimentação plástica perpassa toda sua trajetória, desde a emblemática série Bananas (1968-1975) até a produção de desenhos que beiram os limites da abstração, nos anos 2000. Apesar das singularidades de cada época, é possível circunscrever o corpo enquanto eixo profícuo que atravessa sua produção, seja como pretexto para experimentações, seja como cerne da investigação dos limites do sujeito, sua identidade e seus embates políticos. Em cartaz até 13/11.

Pintura de Sophia Pinheiro | Foto Divulgação

ABERTURAS
Essa é a Grande Volta do Manto Tupinambá
Em tupi, Kwá Yapé Turusú Yuriri Assojaba Tupinambá, a mostra integra o projeto Os Artistas Viajantes Europeus e o Caso dos Mantos Tupinambás nas Cidades do Rio de Janeiro e Porto Seguro, para refletir sobre as relações entre os povos originários, o processo de dominação colonial e sua resistência. O Nheengatu, língua derivada do tupi antigo, foi escolhido como idioma principal da exposição, contemplada com o Prêmio Funarte Artes Visuais 2020/2021. Obras de Edimilson de Almeida Pereira, Fernanda Liberti, Glicéria Tupinambá, Gustavo Caboco, Sophia Pinheiro, entre outros, fazem parte da curadoria de Augustin de Tugny, Glicéria Tupinambá, Juliana Caffé e Juliana Gontijo. Além de fotografias, poemas, desenhos e três mantos, confeccionados por Glicéria, a mostra conta com um catálogo, de distribuição gratuita, e um núcleo histórico, com imagens e textos que acompanham a trajetória desse objeto sagrado. Em cartaz na Funarte Brasília até 17/10, seguindo itinerância para a Casa da Lenha, em Porto Seguro, de 28/10 a 27/11.  

Patas (2007/2010), de Tatiana Blass | Foto Divulgação

Vício Impune: o Artista Colecionador
“As coleções dos artistas podem nos dizer não apenas sobre sua prática, mas também como estão frequentemente na vanguarda de reconhecer e valorizar fenômenos antes subestimados”, escreve o curador Gabriel Pérez-Barreiro. É com esse propósito que a Millan e Raquel Arnaud apresentam, neste sábado, 25/9, mostra com peças de coleções consolidadas por importantes nomes da arte brasileira. Entre os espaços das duas galerias, nove artistas estão em diálogo a partir de seus trabalhos e coleções: Artur Barrio, Iole de Freitas, Tatiana Blass, Tunga, Waltércio Caldas, entre outros. Desenvolvida ao longo dos últimos anos, a pesquisa de Pérez-Barreiro sobre o colecionismo encontra no contexto desta mostra um campo de análise, em que o espectador é convidado a compreender as nuances de relações entre artistas colecionadores e suas coleções. 

São Jorge e o Devir (2009), de Thales Leite | Foto Divulgação

Crônicas Cariocas
Com quase 600 obras, dentre vídeos, objetos, instalações, fotografias e pinturas, a mostra, com abertura dia 25/9, discute a figura do Rio de Janeiro a partir do imaginário coletivo daqueles que presenciam a cidade em toda sua complexidade. A exposição ocupa três galerias do MAR, com montagem que propõe narrar o cotidiano urbano da cidade. Para Amanda Bonan, curadora com Marcelo Campos, o historiador Luiz Antônio Simas e a escritora Conceição Evaristo, o cenário pandêmico foi preponderante para a concepção da exposição. “Pensamos a partir da frase fundamental de Ailton Krenak: ‘É preciso adiar o fim do mundo para contar mais uma história’. Mas que histórias seriam essas que valeriam a pena continuar contando hoje? Vamos falar dessa cidade partida”, afirma. Entre os cerca de 110 artistas participantes, destacam-se Sônia Gomes, Rosana Paulino, Denilson Baniwa, Laerte e Mestre Didi. Em paralelo, o museu lança, semanalmente, nas redes sociais, a série “Isso É a Cara do Rio!”. Composta por dez vídeos, a sequência aborda o cotidiano carioca em situações do dia a dia.

Obra de Eleonore Koch | Foto Divulgação

EM CARTAZ
Projeto 4×5
Com curadoria de Douglas de Freitas, o projeto é organizado em quatro eixos temáticos: Espaço, Projeto, Paisagem e Corpo. Após os dois primeiros módulos, Paisagem ocupa o espaço da galeria. A exposição é conduzida pelas pinturas de paisagens desabitadas de Eleonore Koch, artista homenageada nesta 34a Bienal, em diálogo com obras de Desali, Laura Belém, Mariana Serri e Rommulo Vieira Conceição. Todos os módulos são exibidos de forma híbrida, no espaço físico e no Viewing Room da galeria. O público pode acompanhar os processos de montagem e desmontagem que ocorrem entre as mostras. Até 8/10, agendamentos via WhatsApp + 5511 96082-3111 ou contato@galeriamariliarazuk.com.br 

Stills do vídeo Dívida (Trilogia do Capital), de Cinthia Marcelle & Tiago Mata Machado | Foto Divulgação

Dívida (Trilogia do Capital), de Cinthia Marcelle & Tiago Mata Machado
A Vermelho apresenta primeira parte da nova trilogia da dupla de artistas. O filme traz à cena uma das figuras centrais do capitalismo e que passou a ocupar, depois de sucessivas crises, todo o espaço da esfera pública: a do sujeito endividado. Juntos desde 2008, Marcelle e Machado são idealizadores da Katásia Filmes, que estuda e viabiliza cinema e arte, e em particular as várias intersecções desses campos com imagens em movimento. A exibição fica em cartaz na Sala 4 da galeria até 30/10.

Amigos (2021), de JOTA | Foto Divulgação

ÚLTIMAS SEMANAS
Eu Vim de Lá
A primeira mostra do artista JOTA chega às últimas semanas de exibição, no espaço MT Projetos de Arte, Rio de Janeiro. Suas pinturas retratam cenas de seu cotidiano na Baixada Fluminense, transitando os cultos evangélicos e preces com a mãe, Marilena, às diversões com o irmão Jonathan, cinco anos mais velho. Seu repertório é alimentado pela complexidade carioca, que embaralha legalidade e ilicitude, violência e ternura, beleza e caos. Durante o período de 2020-2021, o artista foi selecionado para receber o apoio do MT Projetos e acompanhamento de Pablo León de La Barra, que assina a curadoria. Agendamento de visitas via mtprojetosdearte@gmail.com. Até 3/10.

Vista da exposição | Foto Ricardo Amado/Divulgação

Língua Solta
Últimas semanas para visitar a mostra em torno do idioma português e seu desdobramento na arte. Ao reabrir ao público, o Museu da Língua Portuguesa trouxe um conjunto de artefatos que ancoram seus significados no uso das palavras, como objetos da arte popular e da arte contemporânea. “A língua é solta porque perturba os consensos que ancoram as relações de sociabilidade dominantes, tanto na vida privada quanto na pública”, comenta Moacir dos Anjos, curador da exposição em parceria com Fabiana Moraes. Mira Schendel,  Leonilson,  Rosângela Rennó,  Jac Leirner,  Emmanuel Nassar, Elida Tessler  e Jonathas de Andrade são alguns dos participantes. Até 3/10. 

Ney Matogrosso (1974), de Madalena Schwartz | Acervo IMS/Divulgação

As Metamorfoses, de Madalena Schwartz
A mostra que celebra o centenário de Madalena Schwartz, no IMS Paulista, encerra sua exibição neste domingo, 26/9, e segue para o MALBA, na Argentina. 112 fotografias feitas por Schwartz e mais 70 itens, entre periódicos, documentos e filmes, compõem a curadoria de Gonzalo Aguilar e Samuel Titan Jr. No mesmo dia, também “damos adeus” à mostra Espíritos sem Nome, de Mario Cravo Neto, nome central da arte brasileira do século XX. Com curadoria de Luiz Camillo Osorio, a exposição inclui cerca de 322 itens, incluindo, além das fotografias, vídeos, desenhos, álbuns e documentos. Agendamento prévio pelo site do IMS.

Still do filme O Artista e a Força do Pensamento (2021), de Elder Fraga | Foto Divulgação

CINEMA
Assim Vivemos 2021
O Festival Internacional de Filmes sobre Deficiência chega à décima edição, com sessões presenciais e virtuais, no CCBB Rio. São exibidos 29 curtas, médias e longas-metragens inéditos de 14 países, entre eles Rússia, Itália e Espanha, e quatro debates online. A Primeira Lei, curta argentino dirigido por Camila Fardella, Eu Sou Irina, curta-metragem russo de Tatyana Rotar, e 13 Kilômetros, média-metragem cazaquistanês de Wladimir Tyulkin, estão entre as produções do festival. A edição carioca acontece presencialmente de 22/9 a 4/10 e, até 11/10 online. Depois, o evento segue para o CCBB Brasília e São Paulo.

Divulgação

INSCREVA-SE
Residências de Pesquisa 2022
O Mirante Xique-Xique, para-instituição iniciada pelo duo de artistas RodriguezRemor, abre programa de residências voltado à pesquisa de artistas, curadores, escritores, arquitetos, cozinheiros, ambientalistas e acadêmicos interessados em uma imersão na Chapada Diamantina. Os candidatos devem optar entre dois formatos de residência: curta duração (10 noites) ou longa duração (21 noites), e escolher o período de residência entre os meses de janeiro e maio de 2022. O MXX está sediado nas altas montanhas do sertão da Bahia, em uma pequena comunidade de 450 habitantes. Convocatória no site http://www.mirantexiquexique.org/residencias/. Inscrições até 10/10.

Vaga Carne (2019), de Grace Passo | Foto Lucas Avila/Divulgação

ONLINE
Festival Digital Palco Giratório
Reconhecido como importante projeto de difusão e intercâmbio das artes cênicas desde 1998, a 23a edição do projeto, de 30/9 a 16/10, promove troca de experiências e formação de público pelo meio digital. “A nossa expectativa é oferecer à sociedade uma programação totalmente renovada dando visibilidade àqueles trabalhos que se destacaram durante o ano e que expressam questões contemporâneas”, explica Raphael Vianna, do Departamento Nacional do Sesc. Os 17 espetáculos são realizados nos teatros do Sesc (sem público) e transmitidos ao vivo para todo o Brasil. A curadoria selecionou trabalhos de Grace Passô (artista que participa atualmente da 34a Bienal), Cia Lumiato, Cia Nós No Bambu, Grupo Bagaceira de Teatro, entre outros, para participar do evento, que permanecerá disponível nas redes da instituição até janeiro de 2022. Acesso pelo canal do Youtube do Sesc Brasil.

Divulgação

LITERATURA
Poetas Negras Brasileiras — Uma Antologia
Reunindo mais de 70 vozes contemporâneas, dos 18 aos 70 anos e de diferentes regiões brasileiras, o livro é um mergulho no pluriverso de possibilidades de apreensões da mulheridade negra e suas escritas, apontando para os dramas coletivos do existir e para uma profunda camada da subjetividade. A organização de Jarid Arraes reúne nomes como Cristiane Sobral, Conceição Evaristo, Esmeralda Ribeiro e Mel Duarte. “Os poemas trazem temas como identidade, linhagem, ancestralidade, sexualidade, cabelo e fenótipo, violência, racismo, equidade, maternidade, amor, paixão… Se tivesse, entretanto, que resumir esta antologia em apenas uma palavra seria força”, escreve Aza Njeri, professora e doutora pela UFRJ, em texto de apresentação. 128 páginas. R$49,00.