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A capa da celeste 1, no alto, é um trabalho de Nina Lins em comentário sobre a capa do catálogo da exposição Information (MoMA-NY, 1970)
Postado em 20/05/2024 - 3:49
ARTE E INFORMAÇÃO UM EXERCÍCIO DE AUTOIMPLOSÃO
Manifesto editorial da edição celeste 01 - Arte e Informação

Todas as imagens estão sub judice. Todos os textos, sob suspeita. A primeira edição impressa da revista e residência artístico-editorial celeste nasce bem nessa encruzilhada, onde é irreversível a invenção de linguagens para a arte e o jornalismo, para as formas de circulação e interação comunicacionais. Do passado relemos a curadoria Information, que reuniu no MoMA, em 1970, artistas conceituais de Norte a Sul globais que trabalham com arte de base textual (instruções, enquetes, legendas, cartazes), processamento de imagens midiáticas e ativismo. Do presente aprendemos com Claudia Rankine, a escritora jamaicana que combina checagem de fatos com poesia para enquadrar o privilégio branco e reivindicar a existência preta plena. Do futuro enlaçamos especulativamente os agenciamentos humanos e não humanos, vivos e não vivos sobre a Inteligência Artificial, mirando na abertura para o desconhecido e para outras modalidades de mundo.

Do passado resgatamos a ação disruptiva do Uá Moreninha, grupo de ação ativo nos anos 1980, que embaralhou as relações entre arte, crítica e imprensa a partir de uma maratona de pintura impressionista nos fundos da Baía de Guanabara. Do presente procuramos entender como a crítica infraestrutural proposta na obra do artista Daniel de Paula extrapola e empodera a atuação dos agentes artísticos no sistema que os engole, ops, engloba. Do futuro vislumbramos a retomada da Yemanjá hackeada pelos legítimos protagonistas da celebração histórica afro-baiana, em um realinhamento ético dos invasores à desautorização de capturar imagens a seu bel-prazer.

Esse exercício crítico-especulativo nasce das conversas e da colaboração entre dois participantes da primeira edição da residência celeste, a artista biarritzzz e o crítico João Victor Guimarães.

Apenas em um exercício de plasmar esses três tempos – e outros ainda, ancestrais, utópicos, terrenos, mundanos – é que uma publicação de arte pode operar nesta década de 2020, desaprendendo as funções de uma revista e inventando as possibilidades de tradução e mediação entre a arte e a informação vividas e aquelas em crise permanente da representação. A residência artístico-editorial é, então, um veículo transitório entre o estatuto tradicional do jornalismo e a redação de revista potencializada, convertida em laboratório de reflexão e experimentação do fazer crítico e jornalístico sobre arte hoje, amanhã e depois de amanhã.

Se Information já havia, faz muito tempo, previsto que os meios de comunicação são espaços expositivos e que, contrária e/ou concomitantemente, por sua vez, arte é veículo informacional – seja ela anti, contra ou metainformação –, cabe nesta celeste #1 compartilhar com nossos colaboradores artistas, escritores, jornalistas, ficcionistas, críticos e ensaístas as nossas dúvidas e incertezas a respeito dos sentidos e da função de informar e os nossos desejos de implosão e reinvenção das linguagens do jornalismo cultural.