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Daniel de Lavor e Fernanda Resstom (Foto: Pedro Knoll)
Postado em 29/03/2016 - 4:43
Falam Daniel de Lavor e Fernanda Resstom
Em entrevista à seLecT, dupla de diretores fala sobre o futuro da nova Central Galeria e seu projeto de tornar o espaço mais integrado à rua
Camila Régis

Poucos ambientes podem ser mais intimidadores para visitantes do que uma galeria de arte. Daniel de Lavor e Fernanda Resstom, à frente da nova Central Galeria, pretendem tirar o estigma do “cubo branco” para deixar o espaço mais convidativo aos que não são necessariamente do mundo da arte. Localizada em São Paulo, a galeria passou por uma reforma tanto física quanto administrativa e reinicia suas atividades a partir de quinta-feira (31) com a exposição O muro: rever o rumo, que apresenta obras de nomes como Gisele Camargo, Jaime Lauriano, Felipe Seixas e Flavia Mielnik.

Daniel, que é administrador, e Fernanda, formada em arquiteta e urbanismo, já tinham trabalhado juntos na Central em 2013 e ambos trazem passagens pela Bienal de São Paulo. Fernanda estagiou na 29ª edição da mostra e Daniel, na 30ª Bienal, fazia visitas guiadas para estrangeiros que contatavam a organização do evento solicitando um guia fluente em inglês. Agora nessa nova fase, a dupla fala com exclusividade à seLecT sobre a proposta de criar uma galeria mais integrada à rua, a parceria com a Fonte, espaço dirigido por Marcelo Amorim, Simone Moraes e Nino Cais, e as expectativas para o futuro do projeto.

Primeiro, gostaria de saber como surgiu o interesse em tocar uma galeria? Queria que vocês falassem um pouco desse processo.

Fernanda: Eu conheci o Daniel justamente por conta da Central. No início de 2013 trabalhamos juntos na galeria por alguns meses. Saí e logo depois fui trabalhar na Carbono Galeria, onde fiquei até o começo desse ano, quando me desliguei para tocar esse projeto. Fiquei bastante animada em dar continuidade a um projeto pelo qual eu já tinha um carinho enorme e poder desenvolver novas ideias. Além disso, gosto muito do espaço e do fato de ali ter funcionado um estacionamento logo antes de se tornar uma galeria. Fiquei muito feliz com essa possibilidade de mantê-lo como um espaço cultural antes que virasse qualquer outra coisa.

Daniel: Estava há três anos a frente da Central junto com o Wagner Lungov, que fundou a galeria em 2010. Quando ele me contou no final do ano passado que havia decidido se desligar da galeria para se dedicar a outra atividade, relutei em aceitar o encerramento. Afinal de contas, aquele espaço tinha tanta vida e havíamos conquistado muito, tanto no âmbito nacional como no internacional. Então, encarei como o fim de um ciclo e o início de uma nova fase. O próprio Wagner tinha a vontade de que a Central continuasse. Mas eu queria alguém para tocar a galeria comigo e não foi difícil chegar na Fernanda. Ela já fazia parte da história da galeria e já tínhamos trabalhado juntos. E recebemos apoio e incentivo de muita gente do circuito. Isso nos alimentou e nos motivou bastante.

 

Quais as expectativas em relação ao futuro da Central? Novos artistas? Novas parcerias?

A dinâmica do espaço mudou. É um lugar enorme, então decidimos torná-lo um pouco mais híbrido. No andar de cima funciona agora o Fonte, espaço de ateliê e residência artística dirigido por Marcelo Amorim, Simone Moraes e Nino Cais. E a Central no espaço térreo, que passou por uma reforma. São dois espaços completamente independentes e autônomos. E para o hall de entrada, a Central e o Fonte estabeleceram uma parceria e criaram um programa chamado “Vídeo de Hoje”, voltado exclusivamente para a linguagem do vídeo. Esta foi a primeira parceria. Estamos abertos a conversar com outros agentes do meio e pensar novas possibilidades e desenvolver novos projetos. Estamos formando um time de artistas e isso se dará aos poucos. Por enquanto estamos focados na exposição inaugural O muro: rever o rumo. E logo após abrimos uma exposição Rodrigo Martins.

Como foi a seleção de artistas para a nova exposição inaugural?

Nós decidimos que a exposição, mesmo que não fosse necessariamente fechada em um tema, faria alguma relação com a ideia de cidade e arquitetura. E a partir disso, nós pesquisamos inicialmente dentro de um leque de possibilidades de artistas que já nos era familiar. E outros que não conhecíamos vieram ou por indicação ou por pesquisa em catálogos de exposições e sites de galerias.

Existe o objetivo de deixar a galeria mais acessível para quem é de fora. Como vocês pensam em aplicar essa nova abordagem?

A galeria está mais convidativa. Colocamos bancos espalhados pelo corredor e criamos um pequeno jardim para que as pessoas que passam em frente a galeria, tenham vontade de entrar e ficar, assistindo os vídeos ou só passando o tempo. Criamos um espaço mais acolhedor. Queríamos que tivesse um caráter mais público e que fizesse uma conexão maior com a rua.