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Cena da coreografia de 2012 inspirada nas esculturas de Antony Gormley
Postado em 25/10/2013 - 7:31
Quebra-cabeça holístico chega a SP
Coreógrafo do filme "Anna Karenina", Sidi Larbi Cherkaoui apresenta neste fim de semana Puz/zle, espetáculo mais recente de sua companhia Eastman, em que imprimiu tom meditativo
Luciana Pareja Norbiato

Um dos mais inventivos coreógrafos da atualidade investe em imagens que flertam fortemente com as artes visuais. Sidi Larbi Cherkaoui, 37, tem trabalhos em parceria com Marina Abramovic (Boléro, de 2013, coreografia dele e performance final dela sobre a música-ícone de Maurice Ravel) e Antony Gormley (que assina o cenário de Babel, coreografia do belga de 2010, entre outros).

“O fato de eu ter crescido na Bélgica certamente me deu um senso de pintura, de luz, de dança dos pintores belgas. E o fato de o meu pai ser marroquino me deu a influência do idioma árabe, especialmente da escrita, muito desenhada, que traduzo nos meus movimentos”,  diz.

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Cena de Puz/zle, coreografia de Sidi Larbi Cherkaoui que estreou no ano passado em uma pedreira em Avignon (Fotos: Koen Broos)

 

Em Puz/zle, a coreografia que apresenta de hoje a domingo no Teatro Alfa e marca sua estreia na América do Sul, algumas imagens remetem aos homens de metal de Gormley, que passearam por centros urbanos do Brasil em 2012, trazidos pelo CCBB. Como pernas para o ar.

O espetáculo, mais meditativo que os anteriores, traz no gene a visão de mundo holística e conciliatória de Cherkaoui. “Estou constantemente tentando jogar com diferenças, encontrando harmonia e equilíbrio entre dois extremos.” Em sua obra, procura sempre tratar de temas difíceis em uma abordagem delicada, mas contundente.

“Eu acho que as pessoas subestimam o efeito de contar histórias muito amargas ou agressivas, isso faz crianças às vezes desconectarem da história, elas não querem ouvir toda essa negatividade. Se elas ouvem histórias narradas de forma objetiva, com alguma lição para ser aprendida, pode ser maravilhoso, mesmo em se tratando da história mais horrível, quando se encontram formas de narrá-las com alma e paixão.”

As pedras são a base para mostrar a evolução de um mundo em que tanto insetos, como as formigas, quanto homens, lutam pela sobrevivência. Apesar das ações tornarem-se complexas à medida em que os animais evoluem até sua forma cultural, caso humano, no fim das contas, os comportamentos não são tão diferentes.

Estrear no continente sul-americano tem um sabor especial para o coreógrafo: “Eu acho que a América do Sul é um continente incrivelmente complexo, por causa de todas as diferentes identidades vivendo juntas e tentando lidar com o passado”.

“Tantas coisas aconteceram no passado que precisam ser digeridas… como conseguir digeri-lo? Como fazer isso sem esquece-lo, claro, para não repetir os mesmos erros, mas também não ficar estagnado na raiva? Porque é preciso seguir em frente sem esquecer, e se reconciliar com a realidade que hoje temos. Eu espero trazer esse tipo de mensagem [à América do Sul].”