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Procuro-me, de Lenora de Barros (Foto: Cortesia da artista)
Postado em 15/04/2021 - 12:34
#tbt seLecT #13
Estéticas da paranoia, vigilância e tecnologias do controle permeiam edição de 2013
Da redação

Na capa da seLecT #13, lançada em agosto de 2013, uma imagem da série Procuro-me, de Lenora de Barros, ganha intervenção gráfica do diretor de arte Ricardo van Steen. Ao “negativar” metade da imagem e utilizar a fonte Futura Bold Italic no título “Paranoia”, van Steen faz uma citação explícita à artista Barbara Kruger e seu cartaz Your Body Is a Battleground. Com esse recurso, nossa capa não apenas pratica a estética da apropriação, defendida em revistas anteriores, mas é um ícone da ideia norteadora da edição, que se propõe a realizar “uma radiografia da cultura dos rastreamentos e das clonagens”.

Capa da seLecT #13

Se o corpo é um campo de batalha (para Kruger), ele agora é biotecnológico, como analisa Giselle Beiguelman em reportagem sobre os novos sistemas de esquadrinhamento e codificação de organismos humanos. Leitores de íris e biossensores eram só o começo desse mapeamento. 

A edição parte do alerta de Edward Snowden, ex-consultor da Agência de Segurança Nacional, nos Estados Unidos, sobre a amplitude de um sistema global de espionagem digital. A quatro mãos, Beiguelman e Paula Alzugaray discutem as estéticas da vigilância, em curadoria que reúne James Bridle, Renata Lucas, Omer Fast, Josh Begley e outros artistas que dão visibilidade aos sistemas de controle. Discutindo a vigilância também como uma forma de cuidado com o espaço público, o jornalista Marcos Diego Nogueira apresenta reportagem que mostra como as arquiteturas da convivência são uma boa alternativa para a ocupação segura da cidade, na contramão da presença de grades e muros altos. 

Em Portfólio dedicado a Carmela Gross, a crítica de arte Luisa Duarte discute a presença das escadas ao longo da obra da artista. O objeto atravessa sua produção desde os anos 1960 até o presente em diversas materialidades, de lâmpadas aplicadas sobre escadas de metal a desenhos sobre a paisagem ou grandes intervenções com concreto, produzindo trabalhos que, segundo a crítica, agem como “máquinas de guerra”. 

No trabalho Documents, Thiago Honório recolheu facas de diversos períodos históricos pelos mercados de Paris, enquanto realizava uma residência artística na cidade. Naquele momento, recém adquirida para a coleção do Museu de Arte Contemporânea da USP, a obra é um dos assuntos abordados na entrevista do artista a Paula Alzugaray, que discute a iminência de violência proposta pela disposição dos objetos sobre uma mesa sem proteção.

Em Coluna Móvel, a pesquisadora e professora Fernanda Bruno, coordenadora do MediaLab da UFRJ, relaciona paranoia, criação artística e cultura urbana, com sua vigilância e controle algorítmico, e, em reportagem, Beiguelman discute o Big Data, seus impactos no jornalismo, na análise da informação e na política.

Boas novas, Márion Strecker passa a integrar a redação da revista como editora convidada, e Luciana Pareja Norbiato se junta ao time como repórter. Em sua colaboração, Strecker apresenta um artigo sobre as origens da ideia de paranoia, conectando o problema ao presente. Já Pareja analisa uma obra de Harun Farocki que mistura jogo e instalação, refletindo sobre a guerra e seus impactos psíquicos nos soldados. Nesta revista, surgem a seção Em Construção, que aborda a produção em processo de Rodolfo Parigi para exposição no Pivô, e a seLecTs (hoje nomeada como Da Hora), uma seleção de notas que “reforça nosso papel de curadoria do panorama artístico e cultural contemporâneo”, como escreve Paula Alzugaray no editorial. 

O Mundo Codificado propõe uma relação entre termos vindos do reino dos insetos e usados no mundo digital, como pensamento colmeia, bug, enxame ou mesmo web. A seção Delete ironiza as mensagens de operadoras de celular viciadas no uso do gerúndio e o Obituário é dedicado ao olho mágico, esse avô distante das câmeras de segurança. 

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