Arte, tecnologia e urbanismo integram-se no trabalho da artista, pesquisadora e professora da FAU USP, Giselle Beiguelman, que apresenta na exposição Cinema Lascado um recorte de seu trabalho realizado durante os últimos 10 anos.
O principal interesse de Beiguelman, que também faz parte do conselho editorial da seLecT, é a obsolescência programada, ou seja, a decisão de propositadamente desenvolver um produto não-funcional. A relação entre programas antigos e máquinas novas, e vice-versa, é outro foco de sua pesquisa. “Não existe possibilidade de vida fora do tempo presente e nosso presente está fortemente ligado às tecnologias, que fazem parte da nossa cultura, lógica afetiva e relações”, explica Beiguelman.
Por meio de softwares, ferramentas e aparelhos eletrônicos que abrangem várias gerações, a artista apresenta uma série de vídeo instalações, projeções e imagens inéditas. Além disso, as metrópoles possuem um papel fundamental no seu trabalho, segundo Beiguelman: “A cidade é o próprio horizonte visual e conceitual dos meus trabalhos. É a razão de ser da exposição”.
Com isto em mente, a artista filmou vias elevadas, como o Minhocão, em São Paulo, e a já extinta Perimetral, no Rio de Janeiro, para criar dois dos seus principais trabalhos: Cinema Lascado – Minhocão e Cinema Lascado – Perimetral, respetivamente. Após as filmagens, ela editou os vídeos gravados em HD com programas de edição obsoletos, provocando a quebra das imagens. Com essa montagem, os visitantes conseguem realizar percursos impossíveis como passear pela Perimetral e, ao mesmo tempo, observar sua implosão.
Apesar da estreita relação com a tecnologia, Beiguelman frisa a relevância do papel do homem nos processos de trabalho. “Me interessam as parcerias entre homem e computador. No meu trabalho, por exemplo, eu perco o controle do processo e, dessa interação com as máquinas e do descontrole, nascem resultados que eu nunca posso antecipar no começo do trabalho”, revela.
Ao ser questionada sobre a existência de uma obsolescência urbanística, a especialista em artemídia é assertiva: “De alguma maneira existe essa obsolescência urbanística, prova disso é a falência de grandes planos corporativos ou as avenidas criadas especialmente para serem ocupadas por carros”. A relação única entre o velho e o novo, a high e o low-tec, as cores nascidas da tecnologia e a cidade são postas à prova em Cinema Lascado, em cartaz até 25/9.
Serviço
Cinema Lascado
Caixa Cultural São Paulo
Praça da Sé, 111, São Paulo
De 16/6 a 25/9
De terça-feira a domingo, das 9h às 19h
www.caixacultural.com.br