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NFT de PV Dias
Postado em 08/04/2022 - 7:34
A era da criptoarte veio para ficar
De hologramas ativistas a softwares de captura de imagem, os NFTs ganham espaço na arte e prometem novos modelos de negócio 

A 18ª SP-Arte apresenta uma novidade: estandes dedicados, exclusivamente, a NFTs. Nos últimos anos, essa tecnologia se tornou um suporte para produção de trabalhos artísticos, ocasionando o aumento de interesse do mercado de arte e dos colecionadores. Nesta edição da feira paulistana, a linguagem tomou conta dos espaços de diversas galerias, tanto novas quanto tradicionais, confirmando que os NFTs chegaram para ficar. 

A sigla, em inglês, significa Non-Fungible Token, e, na tradução em português, Token Não Fungível. Explicado de forma simples, são arquivos que representam a propriedade de alguém sobre um item digital, criptografados pela tecnologia blockchain para garantir a autenticidade da obra. Os NFTs, vendidos por meio de criptomoedas, assemelham-se à uma escritura, um certificado de autenticidade e de propriedade que pode ser transferido quando o item é revendido. 

O destaque da feira é o estande da Tropix, marketplace inaugurado em agosto de 2021 que estreia em espaço físico na SP-Arte. A Tropix conecta artistas e colecionadores para intermediar a compra e venda das obras digitais. A plataforma trabalha em parceria com artistas, como Giselle Beiguelman, André Parente, Gretta Sarfaty, João GG, PV Dias, Simone Michelin, entre outros, e com diversas galerias de arte, como Leme, Zipper, Jaqueline Martins, Kogan Amaro, Verve, Bailune Biancheri, para listar algumas. 

A curadoria do estande, que reúne nomes da arte brasileira de diferentes gerações e que têm em comum o interesse pela pesquisa das linguagens digitais, é assinada pelo curador e crítico de arte Márcio Harum. O projeto expositivo propõe estabelecer uma relação de contato sensorial com o visitante, posicionando as obras em diferentes alturas e suportes para criar uma dimensão de materialidade com o universo etéreo da criptoarte. ”É uma expografia experimental. O maior desafio foi pensar nas formas de expor NFTs em um espaço físico e, nesse caso, em uma feira de arte, onde pessoas circulam por todos os lados. A ideia foi proporcionar essa visualidade para o visitante que está sentado dentro do nosso estande, os que estão de pé observando as obras e aqueles que estão de passagem”, diz o curador à seLecT.

A Tropix também aposta em uma frente pedagógica, dada a grande curiosidade e as muitas dúvidas que o assunto gera. O estande apresenta um vídeo explicativo sobre o que é, como iniciar uma coleção e o que adquirir de NFT. ”Estamos recebendo muitos interessados que não sabem por onde começar. Daí a importância de instruí-las e mostrar como funciona, para que entendam na prática”, comenta Juliana Gouvea, integrante da equipe. Um dos trabalhos expostos, do artista e programador Andrei Thomaz, dá a oportunidade ao visitante de ganhar uma obra em NFT e, assim, familiarizar-se com o processo. Thomaz desenvolveu um software que captura, com uma webcam, e processa imagens do estande. Ao lado do monitor em que a obra é exibida, o visitante é convidado a escanear um QR-Code, fazer um cadastro no site da plataforma e receber a sua cripto-obra, podendo começar uma carteira digital. ”Esse trabalho foi desenvolvido antes da explosão dos NFTs. Porém, considerando que é um trabalho generativo que faz uso da fotografia, o meio da criptoarte é muito adequado para a sua distribuição. Quando os NFTs começaram a ganhar espaço, muitos amigos comentaram que seria ideal para o meu trabalho”, conta o artista. A equipe da seLecT escaneou o QR-Code, seguiu todos os passos, porém, não conseguiu finalizar o processo.

NFT de Andrei Thomaz

A Kogan Amaro Digital Art Gallery apresenta a mesma proposta educacional. Inaugurado neste ano, o projeto da galeria paulistana reúne artistas já representados e nomes internacionais, operando em duas frentes: artistas “nativos” digitais, ou seja, aqueles que já possuíam uma produção em NFT e, dentro da galeria, produzem trabalhos físicos, e artistas do campo da materialidade que se empenham em projetos de NFT. ”As pessoas questionam muito sobre a segurança desse tipo de obra e também sobre a forma de pagamento, o que constitui a maior complicação desse mercado. Trabalhamos em parceria com a plataforma Foundation, que garante para o artista e o colecionador os royalty payments, que são 60% para o artista e 40% para a galeria”, conta Bruno Rizzo, responsável pela área de NFT da galeria, em conversa com a seLecT. A Kogan Amaro oferece aos interessados instruções sobre o passo a passo para adquirir uma NFT. “As pessoas ainda estão em uma fase de entendimento sobre o mercado digital, e a feira é uma oportunidade de apresentar essa nova mídia a quem já coleciona, assim como àqueles que desejam começar. Nós oferecemos auxílio em todo o processo, desde o registro digital até a compra da obra”, explica. 

Land of the Future – Beto armchair (2022), de Fernanda Figueiredo

Outra galeria de São Paulo que possui parceria com a Tropix, a Zipper Galeria, incentiva os seus artistas representados a produzirem na tecnologia NFT. ”Sentimos que os artistas estão se adaptando a essa era digital, buscando produzir cada vez mais dentro desse nicho”, conta Núria Vieira, assessora de comunicação da galeria, em entrevista à seLecT. No estande, dois trabalhos são resultado desse processo: Succubus (2021), de Monica Piloni, que transformou uma obra sua feita como NFT em uma escultura, e Direita Esquerda Preto Branco (2018), de Rodrigo Braga, que apresenta uma obra em NFT que era, originalmente, um vídeo. 

Outra questão mencionada pelos entrevistados refere-se ao perfil do colecionador de NFT: a grande maioria dos compradores é estrangeira, já que a compra e venda das obras acontece no ambiente digital. ”Podemos dizer que existem três perfis de colecionadores de NFT: o tradicional, que já adquire obras de arte e está em busca daquilo que é atual no mercado; aquele que tem interesse por tecnologia e possui uma coleção só digital; e os criptoentusiastas, ou seja, pessoas do mercado financeiro que migram para a criptoarte por já trabalhar com criptomoeda e conhecer o mercado”, revela Wisrah, integrante da equipe Tropix. 

A SP-Arte abriu muitas portas para esse nicho do mercado de arte digital no país. A aposta é: podemos esperar cada vez mais a presença de NFTs no circuito brasileiro de arte. Mas ela vem acompanhada de uma pergunta de um milhão da criptocurrency de sua preferência: o investimento em blockchain vai se ampliar para as funções sociais que essa tecnologia possibilita, ou seja, vai ser aplicado também à certificação de obras de arte em geral, garantindo ao artista o direito à percentagem prevista por lei a cada revenda? O que, por sua vez, garantiria também aos compradores de obras do mercado secundário, num futuro próximo, que a procedência de um trabalho de arte pode ser incontestavelmente lastreada desde a saída do item do ateliê do artista até a galeria ou leilão onde venha a ser comprada pela enésima vez? Faça a sua aposta.

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