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Project For A People’s Flag (1972), postal de Antonio Dias | Foto Divulgação
Postado em 26/08/2021 - 10:51
Agenda do fim do mundo (25/8 a 1/9)
Edição especial da agenda centra forças na maratona em torno da Bienal de São Paulo, para ajudar no cronograma artsy
Da redação

Para a nossa geração: aqueles de nós que vivem em cidades do Ocidente, onde guerras ou conflitos ocorrem em uma terra distante. Nós que vivemos no Sul Global, onde os políticos parecem responder a uma dimensão paralela, enquanto as comunidades a que juraram servir já não têm medo de sair às ruas para reivindicar os seus direitos nesta dimensão vivida de forma tão intensa. Protestos em Hong Kong que duraram um ano, o Estallido social no Chile e marchas contra as expropriações em Sheikh Jarrah, na Jerusalém ocupada, são apenas três casos em questão. (…) Aqueles de nós que lutam pela desmilitarização das fronteiras e pela restauração da condição humana para todos os seres humanos. Aqueles de nós exaustos pela fome, devastação ambiental, desigualdade social, governos neoliberais opressores e pelo racismo estrutural. (…) Para nós, cujo futuro foi adiado por alguns meses naquele ano, foi dada a chance de nos apoderarmos dele – ou, pelo menos em nossa imaginação, de reinventá-lo. Para todos nós, esta pandemia foi e será um momento decisivo.
Elvira Dyangani Ose, em 34ª Bienal: Correspondência #20 

 

REDE DE EXPANSÃO 34b
Antonio Dias / Arquivo / O Lugar do Trabalho
Focada nos procedimentos de reengenharia subversiva da arte efetuados por Dias nos anos 1970, a curadoria de Gustavo Motta traz ao público fragmentos e rastros materiais das estratégias políticas e estéticas do artista durante os anos de chumbo: notas, projetos, obras, cadernos, publicações, esboços e recortes oriundos de seu arquivo de trabalho, recém-confiado aos cuidados do Instituto de Arte Contemporânea – IAC. A exposição, que integra a rede de parceiras da 34ª Bienal de São Paulo, oferece uma nova entrada ao pensamento do artista, revelando seus processos e procedimentos. Dias também tem obras incluídas na Bienal. Abertura na próxima quarta, 1/9, no IAC.

Alfredo Jaar, Sombras, 2014 (Foto: Cortesia Galeria Luisa Strina / artista)

Lamento das Imagens, de Alfredo Jaar
“[Jaar] expõe e articula, em singulares formulações estético-éticas, situações diversas e limítrofes como as de pessoas que sofrem os efeitos devastadores da guerra civil ou que migram sem autorização para fugir da fome, e outras circunstâncias referidas nas obras apresentadas nesta exposição ”, comenta Moacir dos Anjos, curador da mostra que o Sesc Pompeia abre no sábado, 28/8. A exposição reúne um conjunto de 12 obras do artista chileno que investigam a política das imagens, denunciando a obscenidade da representação das relações político-sociais violentas ao redor do mundo. Situadas na área de lazer da instituição, Out of Balance (1989) é uma instalação produzida a partir de fotografias de garimpeiros brasileiros do final dos anos 1980; Roteiros, Roteiros (2021) faz referência ao escritor brasileiro Oswald de Andrade para comentar o atual contexto político e cultural do país; e, em Lamento das Imagens (2002), que dá nome à exposição, o artista reflete sobre os poderes que controlam a produção e a circulação das imagens, apresentando três textos sobre implicações políticas do tema em vários contextos em uma instalação com luzes. 

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Moquém_Surarî: Arte Indígena Contemporânea
O título da mostra refere-se à narrativa makuxi sobre a transformação do Moquém em uma mulher que, nos tempos antigos, subiu aos céus à procura de seu dono, que a havia abandonado. A curadoria de Jaider Esbell, artista macuxi convidado da 34ª Bienal, exibe desenhos, pinturas, fotografias e esculturas de artistas como Denilson Baniwa, Yaka Huni Kuin, Nei Xakriabá, Arissana Pataxó, Gustavo Caboco, Carmésia Emiliano, entre outros, em torno das transformações visuais do pensamento cosmológico e narrativo ameríndio. O objetivo é colocar em xeque o discurso artístico eurocêntrico por meio da ancestralidade, presença e cultura indígenas. “Queremos reproduzir um estilhaçamento da história da arte e mostrar como esse tipo de relação temporal é cronicamente negado no Brasil”, afirma Esbell. A partir de 4/9, no MAM-SP. 

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Regina Silveira: Outros Paradoxos
Para marcar a doação de 42 peças da artistas ao MAC USP, a instituição organiza retrospectiva de sua relevante carreira, reunindo cerca de 180 obras – gravuras, experimentações com apropriações e imagens, videoarte e instalações – abertas ao público neste sábado, 28/8. A exposição dá atenção à dimensão política, de gênero e a presença feminina em sua produção. “O modo de problematizar a realidade à sua volta não passa pela abordagem de assuntos explicitamente políticos, ou pelo uso de imagens panfletárias. Ela trabalha nas entrelinhas mas revelando tensões e contradições sociais”, apontam Ana Magalhães e Helouise Costa, curadoras da mostra. A retrospectiva permite ainda notar como a artista atualiza técnicas e materiais ao longo de sua trajetória, desde a experimentação com o uso de novas mídias na década de 1970 até os recentes processos digitais. Além disso, a individual apresenta esboços dos projetos, estudos de algumas obras, maquetes, vitrines com documentos e vídeos informativos. Agendamentos pelo Sympla. Até 3/7/22.

Pierre Fatumbi Verger. Candomblé Cosme, Salvador, Brasil, 1946 -1953 (Foto: Fundação Pierre Verger)

Pierre Verger: Percursos e Memórias
“A seleção de obras visa trazer novas leituras à trajetória desse fotógrafo expoente.” escrevem os curadores da mostra Priscyla Gomes e Alex Baradel. A partir do recorte dos estudos sobre as culturas iorubá e das diásporas religiosas, diferentes documentações das trajetórias de viagens do fotógrafo e etnógrafo compõem a mostra em cartaz no Instituto Tomie Ohtake. Além de imagens inéditas, periódicos, cartas, negativos e estudos de ampliações delineiam a narrativa expográfica acerca de sua história profissional e pessoal, evidenciando como tornou-se pioneiro em muitas abordagens sobre fotografia, na sua forma de estabelecer diálogo com as diferentes culturas e na investigação dos locais aos quais visitava. Até 21/11.

Noa Eshkol, The Chamber Dance Quartey, 1978 (Foto: T. Brauner / Cortesia de Noa Eshkol Foundation for Movement)

Noa Eshkol: Corpo Coletivo
A exposição revela os bastidores do processo de pesquisa da dançarina, professora e teórica cuja produção é marcada por processos coletivos do fazer. Dividida entre os dois andares da instituição, a mostra exibe trabalhos, documentos, obras têxteis (wall carpets) e vídeos que evidenciam sua investigação acerca do movimento amplo e experimental atravessando as fronteiras da dança. É destacado o caráter coletivo e comunitário do trabalho de Eshkol, ligado ao desenvolvimento de pedagogias e modos de vida mais igualitários. A exposição é uma correalização da Casa do Povo com a Fundação Bienal de São Paulo e integra a rede do evento. Entrada gratuita. Até 15/10.   

Untitled Still Life Collection II (2014), de Trajall Harell (Foto: Jaye R. Phillips / cortesia do artista)

The Untitled Still Life Collection, de Trajal Harrell
A performance do coreógrafo estadunidense acontece neste sábado, 28/8, no Instituto Bardi – Casa de Vidro, no bairro do Morumbi, em São Paulo. Harell problematiza, em suas obras, a construção da história e interpretação da dança contemporânea, mesclando referências do campo experimental da dança com performatividades identificadas com outros corpos e espaços, como o voguing, marcado por uma hiper-performatividade barroca e afirmativa de gêneros e raças orgulhosamente opostos à heteronormatividade patriarcal, e o butô. Registros de performances anteriores do artista poderão ser vistos no Pavilhão da Bienal, a partir de 4/9.

Untitled (2018), de Frida Orupabo (Foto: Gerhard Kassner / cortesia do artista)

Frida Orupabo 
Artur Jafa defende que a conta de Instagram de Frida Orupabo é o âmbito mais avançado da sua prática. Desde 2013, @nemiepeba vem criando uma espécie de interminável colagem digital, constituída por imagens, textos e vídeos, originais e apropriados, que registram e expõem o legado duradouro do colonialismo. A partir desse arquivo digital a artista desdobra a maioria das suas esculturas, colagens e fotomontagens físicas, nas quais Frida permanece sem acesso ao nome dos seus sujeitos – cujas imagens anônimas e martirizadas são de domínio público e derivadas dos processos coloniais de objetificação. A artista opera enfatizando seu direito a olhar, e em oposição ao “ser olhado” da narrativa dominante. Abertura neste sábado, 28/8, no Museu Afro Brasil, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti.

Beatriz Santiago Munõz, “Oriana”, film still, 2021. (Foto: Bleue Liverpool)

Oriana, de Beatriz Santiago Muñoz
São Paulo recebe mostra com obra inédita da artista porto-riquenha em sua primeira exposição no país. Muñoz ocupa o espaço expositivo principal do Pivô com uma única instalação audiovisual que intitula a exposição, Oriana, baseado no clássico feminista As Guerrilheiras, de Monique Witti. O filme é distribuído por diferentes telas espalhadas pelo espaço e com trilha sonora original composta pela banda brasileira Rakta, funcionando como fios narrativos para as sequências de imagens em que corpos femininos habitam cenários tropicais caribenhos. Sua produção é resultado de um envolvimento com os participantes, e muitas vezes coautores, de suas narrativas fragmentadas, investigando o limite entre o documental e a ficção. Durante a abertura neste sábado, 28/8, 13h às 19h, Rakta apresenta música ao vivo baseada na trilha sonora do filme. 

Yuko Mohri, You Locked Me Up In a Grave, You Owe Me at Least the Peace of a Grave, 2018 (Foto: Kuniya Oyamada)

Parade – Um Pingo Pingando, uma Conta, um Conto
Individual da artista visual japonesa Yuko Mohri abre na Japan House, em São Paulo. A instalação que dá título à exposição parte de duas obras de Yuko: Parade, uma máquina desenvolvida pela artista com ajuda de engenheiros que lê desenhos de uma toalha de mesa, e Moré Moré, em que vazamentos são causados propositalmente para, então, tentar obstruí-los e fazer com que a água circule novamente pelo sistema danificado. Ambos apresentam ideias como transitoriedade e impermanência, conceitos muito presentes na cultura nipônica. A exposição também integra a rede de colaborações da 34ª Bienal de São Paulo. De 31/8 a 14/11.

Vista da exposição (Foto Ana Pigosso / Divulgação)

EVENTOS COLATERAIS
Janelas para Dentro 
A mostra, instalada em casa projetada por Paulo Mendes da Rocha em 1970, abre neste sábado, 28/8, como resultado de parceria entre as galerias Central Galeria e Leme. A curadoria de Guilherme Wisnik relaciona trabalhos, intervenções e site specifics com os diferentes ambientes da casa de concreto armado. Escolhidas pela temática da discussão do espaço urbano, atravessando polaridades como o monumental e o cotidiano, o público e o privado, obras de artistas como Ana Elisa Egreja, Carmela Gross, Débora Bolsoni, Dora Smék, Mano Penalva, Marcelo Cidade, Marcius Galan, Raphael Escobar, Ridyas, Rodrigo Sassi, entre outros, participam da exposição. Visitação com agendamento prévio.

A Celebration for the GOoD Time (1983), de Regina Vater (Foto: Catherine McGuire / Divulgação)

A Celebration For the GOod Time
A pesquisa que abrange as relações entre sociedade, natureza e tecnologia, delineia o corpo de trabalhos expostos na individual de Regina Vater, na Galeria Jaqueline Martins. Sua preocupação com as questões ambientais contribuiu para o debate sobre a emergência de uma ecologia midiática na arte e na vida contemporânea; a linguagem dos trabalhos da mostra permeia uma natureza poética, ativista e ecológica. “Podemos interpretar os projetos de Regina da década de 1980 como decoloniais ecofeministas que se baseiam em práticas espirituais e mitologias do Brasil”, escreve Gillian Sneed no ensaio Regina Vater’s Ecofeminist Rituals of Waste and Renewal: 1983–88. De 28/8 a 30/10.

Sem título (2021), de MUSEUL*RA (Foto: Filipe Berndt)

Soma
Abre, neste sábado, 28/8, a primeira exposição da dupla MUSEUL*RA, formada pelos artistas Rodrigo Andrade e Link Museu (Diego Jesus Bezerra). A mostra, com curadoria do espanhol Angel Calvo Ulloa, reúne trabalhos inéditos, incluindo pinturas e instalações, produzidas a partir do encontro dessas duas figuras históricas nas artes institucionais e urbanas; a dupla é resultado da reunião e contrastes das trajetórias de ambos os artistas. A pintura a quatro mãos é aqui levada a parâmetros completamente novos, subvertendo o clássico e fazendo nascer um novo experimento artístico, político, afetivo e cultural. 

Propaganda (2021), de Lucia Koch (Foto: Divulgação)

Lucia Koch e Rommulo Vieira Conceição e Aleksandra Mir
Novas obras de Lucia Koch e Rommulo Vieira Conceição e a exposição Entre Terras, de Aleksandra Mir, são inauguradas em Inhotim no sábado, 28/8. Os brasileiros Koch e Conceição, expoentes da cena contemporânea, foram convidados a desenvolver projetos inéditos. No mesmo dia, Inhotim apresenta Entre Terras, individual da artista Aleksandra Mir que ocupa a Galeria Praça com desenhos em grande escala da série Mediterranean (2007), em que ela questiona as forças sociopolíticas que moldam as identidades nacionais. As ações foram pensadas a partir do programa Território Específico, eixo de pesquisa que norteia a programação do Inhotim no biênio 2021 e 2022. 

Obediência ou Como Nos Acostumamos à Asfixia (2021), de Laryssa Machada (Foto: Shai Andrade / Divulgação)

A Máquina Lírica
O diálogos entre artistas “populares”, “emergentes” e “consagrados” acontece em torno do delírio e do sonho pondo em crise certas categorias normativas que enquadram a prática artística. A mostra, realizada na Galeria Luísa Strina, posiciona-se como um espaço de suspensão, convidando o público a devanear junto a obras que questionam os regimes de visibilidade e produção de sentido. Anna Maria Maiolino, Brasilandia.co, Cildo Meireles, Davi de Jesus do Nascimento, Jorge Macchi, Laryssa Machada, Marepe, Rafael Bqueer, Thiago Honório, Yan Copelli são alguns dos nomes que embarcam nessa criação imagética. “Uma exposição que aproxima ecos do passado e sussurros do presente, fazendo lembrar que memória e imaginação são instâncias indissociáveis.”, escreve a curadora Pollyana Quintella. Até 9/10.

Cavalo, 1999-2000, de Eustáquio Neves (Foto: Divulgação)

Torso Pedra
Mostra coletiva dos artistas Alexandre Brandão, Eustáquio Neves, Luana Vitra e Manoela Medeiros, inaugura no Espaço Cama, em São Paulo. Organizada pelas galerias Periscópio (Belo Horizonte), Kubikgallery (Porto, Portugal), Casanova (São Paulo) e Cavalo (Rio de Janeiro), obras em diferentes mídias relacionam elementos do corpo humano com substâncias sólidas e formações minerais, criando aproximações entre matéria viva e inanimada e reflexões acerca da natureza. Destaque para série de desenhos “Sumiço no Sopro ou Sulco do Chão” (2020) de Luana Vitro, em que a artista lida com as mudanças das paisagens, artificial ou natural, entendendo seu corpo como paisagem inicial, e sua ação como micropolítica na lida com a materialidade que seu trabalho evoca. Em cartaz até 25/9.

Jaider Esbell (Foto: Iano Coimbra / Divulgação)

ONLINE
Artérias
Estreando nessa sexta-feira, 27/8, SescTV lança minidocumentários que destacam o trabalho de artistas negros, indígenas e trans. Com o objetivo de evidenciar a hibridização nas artes visuais do país, a série mergulha, em cada um de seus 26 episódios dirigidos por Helena Bagnoli e Henk Nieman, no universo criativo de um artista diferente. A produção estreia com o artista Jaider Esbell e exibe novos episódios sempre às sextas, às 20h30. Também participam da série Aline Motta, Daiara Tukano, Dalton Paula, Flávio Cerqueira, Isael e Sueli Maxakali, Lyz Parayzo, Maxwell Alexandre, Paulo Nazareth, Rosana Paulino, Sonia Gomes, entre outros. Os episódios são disponibilizados na íntegra no site do canal.