A crise vivida pelo setor cultural goiano se agravou muito durante o atual governo estadual, que em pouco mais de dois anos empossou três secretários.
Neste período, o processo de desmontagem da cultura adquiriu velocidade acelerada e largo alcance: a lei de apoio à cultura, nos moldes do mecenato, se tornou inoperante com a extinção do contrato que permitia repasses fiscais; o Fundo de Arte e Cultura teve grande parte da verba redirecionada à própria SECULT e não mais ao fomento de artistas e produtores culturais; o Centro Cultural Oscar Niemeyer, maior equipamento estadual, foi entregue à gestão da Goiás Turismo e está fechado; os outros equipamentos estão sucateados e alguns estão à deriva, com suas vocações desvirtuadas por interesses opacos; a sombra da economia criativa tenta encobrir a produção autônoma de arte e de cultura; a visão deturpada dos processos de interiorização acha que tampando a produção da capital a interiorana se destacará; a manipulação ideológica anacrônica e bandeirantista do Plano Goiás 300 apareceu como delírio colonialista para comemorar os três séculos da invasão bandeirante; e por último, uma comissão especial, não prevista em edital, formada por membros da SECULT, da Secretaria Estadual de Economia e da OAB, decidirá quais projetos já aprovados em editais de anos anteriores do FAC receberão as verbas a que têm direito, numa atitude arbitrária e descabida.
No final do ano passado, a área de artes visuais sofreu um grande abalo com o desvirtuamento de função do Centro Cultural Octo Marques – inaugurado em 1988 com a abertura do Museu de Arte Contemporânea. O processo de instalação da Gerência de Inovação e Empreendedorismo Cultural tentou fechar as duas galerias e a Escola de Artes Visuais com seu programa de residência Artística Ateliê Livre. Para a área representava uma enorme perda pois o MAC posto em mãos erradas está sufocado e inativo, e somente estas duas galerias estão instaladas em espaço com características arquitetônicas adequadas à função. Além do mais, a Escola de Artes Visuais está instalada lá desde sua criação em 1992. Portanto, são 31 anos de atividades das artes visuais neste local.
Para se opor ao desmonte surgiu a Frente de Defesa das Artes em Goiás que iniciou suas ações com a publicação de uma carta ao Governador de Goiás expondo a crise e solicitando medidas de contenção. Diante de toda forma de ataque à classe e de desmonte das instituições e equipamentos, os profissionais da cultura se organizaram para tentar barrar o processo destrutivo, e em uma ação conjunta a Frente, o Fórum Permanente de Cultura e o Fórum de Mulheres da Cultura realizaram uma grande carreata para pressionar o governo a receber a categoria e ouvir suas demandas. A ação dos coletivos teve bastante divulgação pela imprensa e resultou em convite do Secretário interino da Cultura para uma reunião de negociação.
Desde então a Secretaria de Cultura tem tentado resolver numa parcela dos problemas: recuou no fechamento das duas galerias e da Escola de Artes Visuais. Porém não basta retomar no ponto precário em que estavam funcionando. É preciso um programa de revitalização com investimentos em recursos humanos e em tecnologias para estes espaços, é necessário ativar suas potencialidades. Logo, ainda há muito a trilhar.
Quanto aos demais pontos levantados pela classe cultural, o Governo do Estado ainda não se pronunciou. Segue o temor do desmonte continuar a galope.
Divino Sobral
Artista visual e curador independente