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Postado em 18/04/2012 - 5:16
Arte na fogueira
da redação seLecT

Diretor de museu queima pintura do acervo para protestar contra falta de financiamento para as artes na Itália

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Em fevereiro, Antonio Manfredi artista e curador do Casoria Contemporary Art Museum, em uma cidade perto de Nápoles, ameaçou queimar a coleção permanente da instituição para protestar contra a falta de fundos públicos para as artes na Itália. Ontem à tarde, ele cumpriu a ameaça diante de câmeras, em frente ao museu. Ele ateou fogo a uma pintura da artista francesa Séverine Bourguignon, que assistiu a tudo via Skype. Manfredi planeja queimar três pinturas por semana para dar seguimento a seu protesto incendiário, informou hoje o ARTINFO.

Segundo o site de notícias sobre arte, que pertence ao grupo midiático Louise Blouin Media – que publica as revistas Art+Auction e Modern Painters -, o diretor do CAM teve o consentimento da artista para sacrificar a tela. E hoje à tarde contará com a presença da autora da próxima vítima para armar a fogueira: a artista napolitana Rosaria Matarese pretende, ela mesma, atear fogo a uma de suas obras.

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O objetivo do diretor do museu é conseguir uma reversão das duras medidas de austeridade que lançaram encargos particularmente elevados sobre os ombros do setor cultural da Itália. Tais problemas são ainda mais difíceis no sul do país, onde o desemprego e o analfabetismo são elevados, a corrupção é galopante, e as atitudes gerais em matéria de arte são caracterizadas por cinismo e desconfiança. Na opinião de Manfredi, apenas medidas extremas podem chamar a atenção de Lorenzo Ornaghi, diretor do Ministério do Patrimônio Cultural da Itália.

A fonte das informações publicadas pelo ARTINFO é o próprio museu, que enviou hoje um e-mail ao site, reproduzido na matéria: 

“Às seis horas da tarde, em frente à entrada do Casoria Contemporary Art Museum (CAM), o trabalho de Séverine Bourguignon foi consumido pelo fogo. A tela foi queimada pelo diretor, Antonio Manfredi, que esperou durante todo o dia por um sinal da equipe da instituição. Cheio de raiva e emoção quando o sinal [18h era o limite do prazo que ele havia dado ao governo italiano em fevereiro] não chegou, Manfredi, os funcionários do museu e a própria artista (via Skype), reuniram-se para sacrificar uma obra de arte da coleção permanente do CAM. A artista francesa confirmou a decisão de destruir o seu trabalho, uma decisão que ela chamou de ‘política’, necessária e urgente em face dessas circunstâncias adversas. Amanhã, novamente às 6 da tarde, a artista napolitana Rosária Matarese vai incendiar uma de suas obras. O CAM, entretanto, está esperando que alguém intervenha”.

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Antonio Manfredi já havia apelado para a piromania em um protesto anterior, quando queimou os próprios trabalhos na abertura da exposição CAMouflage – Fotocopie per una Rivoluzione Culturale (Fotocópias para uma Revolução Cultural), que está em cartaz no museu desde o final de fevereiro. A exposição consiste em cobrir todas as obras da coleção permanente exibidas e deixar à vista apenas reproduções fotocopiadas delas. No dia da inauguração, a obra de Manfredi apresentada na Bienal de Veneza passada foi destruída do lado de fora do museu, assim como ontem aconteceu com a pintura Promenade, de Séverine Bourguignon, de valor estimado de €10 mil.

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