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Postado em 20/08/2013 - 6:04
Olho Mágico (1926-1986)
Giselle Beiguelman

Popularizado em meio à cultura do medo dos anos 1930 e 1940, o dispositivo teve sua pá de cal selada com a chegada do vídeo e dos sensores de presença

Olho_magicoLegenda: Cena de O Olho Mágico do Amor (1981). O filme conta a história de uma secretária, vivida por Carla Camurati, que supera o tédio do cotidiano ao descobrir que sua sala é vizinha de um prostíbulo onde trabalha uma prostituta interpretada por Tânia Alves (reprodução)

O visor de porta, poeticamente chamado de olho mágico em português, nasceu em data indefinida, muito embora há quem diga que tenha sido inventado, em 1932, por George Winningham, personagem enigmático sobre quem não se encontram muitas informações. Em francês, o dispositivo é chamado de Judas, aproximando a cultura da vigilância do território da traição.

A primeira patente de que se tem conhecimento é de 1928, solicitada por William Frankel, em 1926, cidadão do estado de Nova York. Diretamente relacionado à segurança doméstica, o olho mágico nunca teve mãe, mas inúmeros pais, que fizeram diversos pedidos de registro em um dos mais policialescos momentos da história, entre os anos 1930 e 1940. Essas décadas, eternizadas pelos mortíferos regimes totalitários nazistas e fascistas, valeram-se da popularização da cultura do medo, fundamental para a consolidação do estado geral de prevenção, como mostrou o cineasta Ingmar Bergman em O Ovo da Serpente (1977), que investiga as ambivalências da Alemanha na criativa e complexa República de Weimar, nos anos 1920. Ao longo de 30 anos sofreu poucas mutações, ganhando acessórios de acabamento e sofisticação nas lentes. Foi apenas nos anos 1980 que as tecnologias de “defesa doméstica” foram definitivamente transformadas pela possibilidade de incorporação do vídeo (do latim “eu vejo”) aos lares, tornando-se corriqueiras a partir dos anos 1990. Em 1986, quando a Sony registrou um sistema para vigilância dos outdoors, selava-se a pá de cal nos antigos olhos mágicos.

Sensores de presença, identificadores de voz e novas tecnologias de reconhecimento de íris e leitura (escaneamento) de digitais, nas primeiras décadas do século 21, rapidamente arquivaram essa história. Ficam na memória e nos anais da ficção os dias em que ainda valia a regra humana, demasiadamente humana, de que The Big Brother is Watching You.

*Publicado originalmente na edição impressa #13.

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