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Eu não Sou Só Eu Em Mim – Estado da Natureza | Procedimento 1 (2023), do grupo Cena 11, de Karin Serafin, de Florianópolis, SC, que teve projeto contemplado pelo Rumos (Foto: Divulgação / Beto Assem)
Postado em 07/05/2024 - 3:25
Fora do eixo sudestino
Com maior número de contemplados do Nordeste, Rumos 2023-2024 divulga selecionados; clima e envelhecimento estão entre os temas de destaque

A cada edição, os projetos selecionados para o Rumos, o principal programa de fomento do Itaú Cultural, costumam compor um retrato da sociedade brasileira. Questões raciais negras e indígenas, LGBTQIAPN+ e de cultura periférica já pautam há pelo menos uma década as propostas contempladas, realizadas em várias linguagens artísticas. A lista recém divulgada da edição 2023-2024 aponta para dois novos e contundentes debates da contemporaneidade: a emergência climática e o envelhecimento.

Com a questão etária na pauta do dia, cabe evocar, antes de tudo, a lição de longevidade, vitalidade e integridade – além da aula de história da música pop – que Madonna deu à sociedade brasileira em seu megaespetáculo em Copacabana, no sábado, 4/5. Do alto dos seus 65 anos, exatamente na “virada de lote” das pessoas consideradas idosas, a artista dá show contra o etarismo, o machismo e a misoginia. Nada mais necessário em um Brasil que ostenta trágicas taxas de morte violenta de mulheres e transsexuais e em franco envelhecimento – segundo o Censo do IBGE divulgado em 2023, o número de idosos no Brasil cresceu 57,4% em 12 anos, atingindo 10% (22.169.101) da população.

Entre os 100 projetos selecionados para a 20ª edição do Rumos, de 26 estados brasileiros e o Distrito Federal –, cerca de 13 elencam temas intergeracionais. Entre eles, abordam envelhecimento os projetos de dança Vazante, de Teresina, Piauí, do grupo de Canteiro, com a participação de mulheres 60+, e RAINHA, de Karin Serafin, de Florianópolis, SC.; e o projeto de literatura Trilogia sobre a Velhice, de Dayse Torres, de Campinas, São Paulo. “Estamos sempre reinventando o Rumos para questões sensíveis e políticas do momento”, afirma Jader Rosa, superintendente do Itaú Cultural, na coletiva de imprensa.

POLÍTICAS PARA CRIAÇÃO ARTÍSTICA
A região Nordeste teve mais contemplados – 41% do total –, dado que confirma o atual foco da Fundação Itaú e do Itaú Cultural a territórios fora do eixo sudestino. Em seguida, vêm Sudeste e Norte, ainda que o Norte esteja entre as regiões com menos projetos inscritos, apenas 5,2%. Com a grande participação dos estados amazônicos e de projetos indígenas, as pesquisas contempladas prometem contribuir para o debate acerca da crise climática, como o Atlas Imaginário, de Gabriela Bilá, de Manaus, que aborda ecologia, fazendo uso de arte e tecnologia.

Buscando contribuir para a retomada da produção artística em anos pós-pandemia de Covid-19, o Rumos 2023-2024 contemplou somente projetos de criação artística relacionados à arte e cultura brasileiras. Durante o próximo ano e meio, os processos entram em execução, com acompanhamento das equipes do IC. Serão investidos R$ 8,5 milhões para a execução (até R$ 100 mil cada). “Esses valores serão ampliados, com os orçamentos de exposições e de ações a partir dos projetos selecionados”, diz Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú e do Itaú Cultural. Chama atenção a não obrigatoriedade de apresentação de um resultado final. “Em um país com políticas públicas tão frágeis para a criação artística, estamos felizes de colocar um grão de areia nesse espaço de criação”, completa Saron.